terça-feira, 28 de maio de 2013

Família estendida


Introdução

Aqui vamos nós para nosso terceiro Round no UFC Família. Nosso combate de hoje precisa iniciar com a definição de uma expressão que tem sido usada no contexto missional: “Família estendida”.

O que queremos dizer com isto? Segundo o Pr. Mike Breen:

Basicamente, o termo família estendida é utilizado, quando uma pessoa se relaciona com outras pessoas além de sua própria família que fazem parte de seu convívio cotidiano, como parentes, amigos e pessoas com quem há interatividade regular.”

Esse é um conceito que temos usado como igreja missional, mas que é observado também no contexto cotidiano. Como mostra estehttp://youtu.be/AXXPIk4v6aw

Assim, a idéia de família estendida passa pelo conceito de reconhecermos um grupo maior, que transcende a família nuclear, podendo ser composta por outros familiares consangüíneos ou mesmo amigos.

Por que para a igreja é importante entrar em combate por este conceito de família? Pelo menos por três razões:

Primeiro, porque a conhecida família nuclear tem sofrido com o individualismo de nossa sociedade contemporânea, quando gera a idéia de que se nos tornamos uma família, então, temos que responder individualmente por ela.

Segundo, porque um número cada vez maior de crianças, adolescentes e jovens, frutos da desagregação familiar contemporânea, carecem de referências para suas vidas de relacionamentos saudáveis e de modelos adequados de paternidade, vida conjugal e relacionamento entre os membros de uma família.

Terceiro, porque conforme a Bíblia a própria essência da igreja é a de uma família estendida que expressa o grande e generoso amor de Deus que é derramado sobre nós.

Quando lemos os Evangelhos vemos que o próprio Senhor Jesus apontou para esta dimensão na explicação de sua igreja, expressa primariamente pela comunidade de seus discípulos reunidos ao redor dele.

“Então chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficando do lado de fora, mandaram alguém chamá-lo. Havia muita gente assentada ao seu redor; e lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram. Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? , perguntou ele. Então olhou para os que estavam assentados ao seu redor e disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” (Marcos 3.31-35)

“Respondeu Jesus: Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais, já no tempo presente, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguição; e, na era futura, a vida eterna.” (Marcos 10.29-30)

Então, como podemos combater em prol do conceito e desenvolvimento da família estendida como uma alternativa de Deus para o acolhimento e modelamento de pessoas que se rendem ao evangelho em nossa cultura contemporânea?

Para responder a esta questão quero que observemos o texto bíblico conhecido como “Tito”, em seu capítulo 2. Este livro é uma carta escrita pelo apóstolo Paulo a um de seus jovens discípulos, que ficou com a responsabilidade de liderar o avanço do evangelho e a estruturação da igreja na Ilha de Creta.
ENTENDER QUE TODOS NÓS SOMOS RESPONSÁVEIS NA FORMAÇÃO DOS VALORES FAMILIARES.

“Você, porém, fale o que está de acordo com a sã doutrina.” (Tito 2.1)
“É isso que você deve ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze.” (Tito 2.15)

Entre a abertura e o encerramento deste texto temos para quem Tito deveria ensinar o que é chamado de “sã doutrina”. E a mesma deveria ser ensinada para:

  1. Os homens mais velhos
  2. As mulheres mais velhas
  3. As mulheres mais jovens
  4. Os jovens.
  5. Os escravos

Ou seja, todos as faixas etárias são contempladas, bem como as posições sociais.

No contexto de Tito, os escravos faziam parte de uma família. Na cultura grega eles eram de propriedade dos patronus.

No texto de Efésios 6.9 vamos ter uma orientação da palavra de Deus direcionada aos patronus cristãos em relação a seus escravos, que é omitida aqui em Tito, mas que serve de referência para entendermos que todos estão sendo contemplados pela orientação das Escrituras sobre suas responsabilidades para a formação e manutenção dos valores do Reino de Deus na vida familiar.

“Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas.” (Efésios 6.9)

Na nossa cultura fugimos da responsabilidade que temos como parte de nossa família. E há muitas famílias que não tem nenhuma referência que possa ser seguida pelos seus componentes, porque estamos mais preocupados com nossos direitos individuais do que com nossa responsabilidade familiar.

Assim, a igreja deve ser uma grande família. Temos todos o mesmo sangue! O sangue do Cordeiro Santo de Deus, Jesus Cristo, que morreu por nós e ressuscitou, para que pudéssemos ter uma nova vida. Uma vida com um novo poder, novo relacionamento e novo propósito.

Cada um de nós precisa se ver como responsável por outros que chegam no nosso meio precisando de modelos de pais, mães, casamentos, filhos, para que saibam como viver as suas vidas dentro dos valores do Reino de Deus.



ENTENDER QUE NOSSO MODELO DE VIDA DEVE SER REFERÊNCIA PARA A VIDA FAMILIAR

“Ensine os homens mais velhos a.... Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a... Assim poderão orientar as mulheres mais jovens a.... Da mesma forma encoraje os jovens a.... Ensine os escravos a....”

Ao orientar Tito sobre o que ele deveria ensinar na igreja em Creta, o apóstolo Paulo, enfatiza a vida cotidiana e comum que temos para viver como cidadãos do Reino de Deus, inseridos como peregrinos em uma cultura oposta ao governo amoroso de Deus.

A descrição que encontramos em Tito 1.9-16 demonstra claramente como a cultura em que a igreja de Creta estava inserida era contrária ao Reino de Deus e como a igreja deveria responder a ela.

De modo semelhante em nossos dias vivemos cercados por valores que são opostos a boa e perfeita vontade de Deus para a humanidade e como igreja devemos nos opor a eles através de um estilo de vida que propicie uma alternativa para a sociedade que nos cerca.

Assim, a sã doutrina que a Bíblia nos ensina não é nada etérea, mas concretamente pratica para nosso viver diário e para a vida das pessoas que nos cercam.

  1. Os homens mais velhos devem ser modelos de moderação, respeito, sensatez, e de uma vida saudável de fé, amor e esperança (Tito 2.2).
  2. As mulheres mais velhas devem ser modelos de vidas reverentes, bondade, temperança e benignidade. Orientando as jovens mulheres (Tito 2.3-4).
  3. As mulheres mais novas precisam praticar o amor ao esposo e cuidado para com os filhos, a serem prudentes e puras, a não serem ociosas, a serem bondosas, e submissas a seus maridos (Tito 2.4-5).
  4. Os jovens precisam ser prudentes (2.6).
  5. Os escravos precisam ser submissos, agradáveis aos seus senhores, sem responderem e roubá-los (2.9-10).

Estes são exemplos do primeiro século de uma cultura específica, mas que expressam o princípio do que a “sã doutrina” do evangelho deve produzir em nossa vida.

Hoje as pessoas precisam, tanto ou mais do que nos dias de Tito, de referências do que vem a ser uma vida familiar sadia. Pessoas precisam de referenciais e de encontrarem um caminho alternativo para inspira-las na vida familiar.

Adolescentes e jovens precisam encontrar referência de casais com casamentos sadios para se sentirem seguros ao entrarem em um casamento. Crianças precisam encontrar o modelo de masculinidade e feminilidade saudáveis para que possam se desenvolver como homens e mulheres integrais. Jovens casais precisam ver em casais mais maduros a sabedoria de um casamento que fez a escolha pela aliança conjugal no lugar da transitoriedade da paixão. 

ENTENDER QUE A GRAÇA QUE NOS É OFERECIDA PELO EVANGELHO É O QUE SUSTENTA A FAMÍLIA ESTENDIDA.

“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança; a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à pratica de boas obras.” (Tito 2.11-14)

A conclusão deste texto é de fundamental importância para a compreensão da igreja como a família estendida de Deus para nós.

O texto nos lembra que se vivemos o que vivemos como igreja é devido a graça de Deus e não a nossos esforços pessoais, ou porque a igreja tem em si algum elemento mágico.

Muitas pessoas se decepcionam com a igreja porque esquecem-se de que ela é composta por seres humanos como todos os demais, e que a única diferença entre nós é o poder do evangelho que nos conduz a aprender e viver um estilo de vida diferente do contexto que nos cerca.

A igreja, assim como qualquer outra família, tem suas crises, suas limitações, seus desencontros, mas a graça de Deus se manifesta salvadora através do evangelho, nos conduzindo a busca continua de um novo padrão de vida que irá nos referendar.

A igreja é o contexto onde as pessoas devem encontrar uma família estendida que foi remida de toda a maldade e purificada para ser o povo de Jesus Cristo que está neste mundo, mas que vive na prática das boas obras (a vontade boa e perfeita de Deus para a humanidade).

É no contexto desta família estendida que a sociedade pode encontrar esperança no evangelho, no que Deus fez por nós através da morte e ressurreição de Jesus Cristo, pois aprendemos com ele a viver nesta era presente de maneira sensata, justa e piedosa, enquanto esperamos a chegada plena do Reino de Deus.

Esse é o desafio e o privilégio que o Evangelho nos impõe como uma igreja missional! Sermos a referência para as famílias ao nosso redor do que é um casamento baseado na aliança conjugal, do que são pais comprometidos com a formação de seus filhos e filhos engajados com dar honra a seus pais.

Se nossa sociedade contemporânea não sabe o que é isto, então, que ela olhe para a igreja e veja o modelo disto em nós. E para tanto, precisamos da graça de Deus.

No Caminho,

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Formação dos Filhos


Gostaria de tratar com vocês hoje sobre o desafio que temos quanto a formação de nossos filhos.

Não tenho dúvida de que estaremos mexendo hoje com a “taça de cristal” da maioria de nós. Geralmente temos a tendência de darmos do nosso amor incondicional a nossos filhos. Isso não é mau, pois na verdade é isto que Deus planejou para que fosse vivenciado em todos os nossos relacionamentos.

Contudo há um problema na maneira em que fazemos isto! É o fato de não reconhecermos, muitas vezes, que nossos filhos estão inseridos em um mundo que está marcado pela realidade da desconexão com Deus e por isso sofre das influências do que é contrário ao plano bom e perfeito de Deus para nossas famílias.

Conforme a revelação bíblica, Deus nos deu como pais a responsabilidades de educarmos e formarmos nossos filhos com os fundamentos da sua vontade revelada nas Escrituras.

Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor.” (Efésios 6.4)

Precisamos compreender e admitir que existe uma forte influência exercida em nosso mundo para que as pessoas vivam contrárias ao propósito bom e perfeito de Deus para nós. E isto influencia nossos filhos.

Dentre as forças que competem pela formação da identidade e valores de nossos filhos estão a mídia, o ensino secular, e atualmente o próprio Governo que deveria cuidar de leis e ações que promovessem o bem e a segurança social, mas estão mais interessados em exercerem domínio sobre os valores de nossas famílias.

Veja como exemplo a chamada “Lei da palmada” que foi promulgada pelo Governo Federal que restringe o direito a correção que os pais tem de exercer sobre seus filhos, em nome de uma pedagogia chamada construtivista, que é inócua, pois não considera a realidade da desestrutura da maioria das famílias, sem falar na perspectiva do que a revelação bíblica chama de pecado original.

É claro que não somos favorável a qualquer forma de violência física contra crianças, mas a solução para isto não está na promulgação de uma Lei que proíbe os pais de corrigirem seus filhos.

Quanto a mídia existe um incentivo cada vez maior a violência, a independência, a irresponsabilidade, ao sexo casual e sem compromisso, a erotismo nas relações e a patologias no comportamento, apresentado por programas de televisão, novelas, filmes e séries.

No campo da educação secular, existe um explicito movimento contrário a valores já estabelecidos, usando-se do argumento de se desfazer preconceitos, mas que visa formatar uma aceitação a-crítica as tendências que grupos sociais querem insistir em que se tornem o paradigma aceito em nossa sociedade. Veja como exemplo o gasto irresponsável do Governo de verba pública para disseminar o chamado “kitgay”, com o argumento de um ensino “anti-homofóbico”, mas que na verdade é uma apologia e incentivo ao homossexualismo.

Também podemos citar cartilhas que ensinam como usar drogas e a fazer sexo seguro, com o argumento de que precisamos prevenir as consequências para nossos filhos, no lugar de promover uma mudança de mentalidade.

O fato é que todos os dias somos expostos a notícias assustadoras que envolvem crianças, adolescentes e jovens, que poderiam ser nossos filhos, ou que são colegas de nossos filhos.

Aliado a tudo isto está a apologia de nossa sociedade a uma vida hedonista, materialista e utilitarista, que faz com que nós busquemos como prioridade as nossa própria satisfação e sucesso profissional. Vendo até mesmo a maneira que criamos nossos filhos por esta agenda.

Diante de tudo isto nos deparamos com este ensino que as Escrituras Bíblica nos apresentam, de que como pais somos responsáveis diante de Deus pela formação de nossos filhos.

Assim, como é que podemos ganhar este Round?

  1. ASSUMINDO O COMPROMISSO DE FORMAR NOSSOS FILHOS NA INSTRUÇÃO E CONSELHO DO SENHOR.

“Pais, ...., criem seus filhos segundo a instrução e conselho do Senhor.”  (Efésios 6.4)

A nossa sociedade pode nos dizer, e podemos acreditar, que a coisa mais importante que temos que fazer por nossos filhos é dar-lhes uma boa formação educacional e bens materiais, contudo isso não é verdade e não é suficiente.

Veja o que o filósofo e articulista da Folha de São Paulo Hélio Schwartsman tem a dizer sobre isso:

“Deu na Folha que pais paulistanos investem fortunas em escolinhas bilíngues cuja missão é formar superbebês. Eu próprio não agia de forma diferente quando meus filhos eram pequenos, mas é importante ter em vista que essa superestimulação é muito provavelmente um desperdício de recursos, que atende mais a nosso desejo de controlar as coisas do que às necessidades cognitivas das crianças.” (Folha de São Paulo 07/05/2013)



Conforme a sabedoria bíblica a tarefa mais importante que temos na formação de nossos filhos é ensina-los a conhecerem a vontade boa e perfeita de Deus que nos é revelada em sua Palavra, ensinando-os a viverem no que a Bíblia chama de “temor ao Senhor”.

Ouça, ó Israel: O SENHOR, o nosso Deus, é o único SENHOR. Ame o SENHOR, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões.” (Deuteronômio 6.4-9)

Nossos filhos precisam observar em nós um adequado relacionamento com Deus, de compromisso, obediência e temor, e serem orientados por nós a uma entrega verdadeira de suas vidas a Jesus Cristo, mediante o evangelho, para que então tenham uma vida de fato bem sucedida.

  1. ASSUMINDO O FATO DE QUE LIDAMOS COM UMA GERAÇÃO DIFERENTE DA NOSSA.

“Pais, não irritem seus filhos;” (Efésios 6.4)

O texto bíblico nos diz para criarmos os filhos segundo a instrução e o conselho do Senhor e não conforme os nossos pontos de vistas, pois se fizermos isto iremos na verdade apenas irritá-los.

Uma das crises que como pais vivemos com a responsabilidade de formarmos nossos filhos é gerada pelo equivoco que fazemos de achar que os mesmos têm ou terão uma leitura do mundo e da vida como foi a nossa, ou que temos que ter uma leitura do mundo como a deles.

Toda cultura humana é formada pelo entrelaçamento de gerações, mas é preciso entender que estas gerações lidam com a vida e o mundo de maneira diferente umas das outras.

É claro que sempre haverá uma medida de influência trocada entre as gerações, mas não podemos esperar que a cosmovisão de mundo que tínhamos a 40 anos atrás seja exatamente a mesma que nossos filhos terão.

Sociologicamente falando podemos dividir as gerações de nossa sociedade em 4 principais: baby boomers; geração x; geração y (milenius/eu me acho) e a geração z.


Baby Boomers
Geração X
Geração Y
Geração Z
1946 a 1964
1965 a 1979
1980 a 1995
Pós 1995
Pós-guerra: busca de prosperidade econômica.
Guerra fria: busca por valores liberais
Globalização: Geração eu me acho.
Era da informação: Os primeiros nativos digitais
Características:
  1. Ambiciosos
  2. Plano de carreira
  3. Busca por estabilidade financeira
  4. Conservadores
Características:
  1. Autoconfiantes
  2. Carreira como item  complementar.

Características:
  1. Tecnológicos
  2. Mutaveis
  3. Trabalho como meio para atingir objetivos pessoais
Características:
  1. Não conhecem o mundo sem a internet
  2. Forte interação digital
  3. Geração Indoor


Educadores e psicólogos familiares chamam nossa atenção para o equivoco que temos feito como pais em procurar super valorizar a auto-estima de nossos filhos. Isto os tem levado a serem parte de uma geração iludida e que não sabe lidar com suas próprias frustrações, gerando uma juventude emocionalmente enferma e que busca fugir em uma série de compulsões: drogas, bulemia e anorexia, se cortar, síndrome do pânico, ansiedade, depressão, etc.

A matéria de capa da Revista Época de 22/07 de 2012 trouxe uma matéria demonstrando como nossa tendência de criarmos nossos filhos a partir de nossas expectativas contribuem para a formação de uma geração altamente egocêntrica. 

“Em português, inglês ou chinês, esses filhos incensados desde o berço formam a turma do “eu me acho”. Porque se acham mesmo. Eles se acham os melhores alunos (se tiram uma nota ruim, é o professor que não os entende). Eles se acham os mais competentes no trabalho (se recebem críticas, é porque o chefe tem inveja do frescor de seu talento). Eles se acham merecedores de constantes elogios e rápido reconhecimento (se não são promovidos em pouco tempo, a empresa foi injusta em não reconhecer seu valor). Você conhece alguém assim em seu trabalho ou em sua turma de amigos? Boa parte deles, no Brasil e no resto do mundo, foi bem-educada, teve acesso aos melhores colégios, fala outras línguas e, claro, é ligada em tecnologia e competente em seu uso. São bons, é fato. Mas se acham mais do que ótimos.”

Segundo a matéria apresentada na revista o problema com a formação de nossos filhos é duplo:

“A primeira é o esforço incansável dos pais para garantir o sucesso futuro de sua prole – e esse sucesso depende, mais do que nunca, de entrar numa boa universidade e seguir uma carreira sólida.  O segundo pilar da criação moderna está na forma que os pais encontraram para estimular seus filhos e mantê-los no caminho do sucesso: alimentando sua autoestima. É uma atitude baseada no Movimento da Autoestima, criado a partir das ideias do psicoterapeuta canadense Nathaniel Branden, hoje com 82 anos.”

De modo semelhante constata a jornalista Eliane Brum:

“Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.”
Se compreendemos isso, então, precisamos aceitar que a única realidade que pode alterar esta situação é o Evangelho. O único poder com condições de transformar qualquer realidade e alterar qualquer cosmovisão e paradigma e que poderá transformar a vida de nossos filhos é o evangelho.

Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus.” (1Coríntios 1.18)

Precisamos como pais viver o evangelho e compartilha-lo de modo explicito e claro com nossos filhos, pois ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crer. 

  1. ASSUMINDO QUE A RESPONSABILIDADE PELA FORMAÇÃO DE NOSSOS FILHOS É DO CASAL.

“Pais (Pateres),...” (Efésios 6.4)

A palavra de Deus atribui a responsabilidade pela formação dos filhos aos pais. Ou seja, não apenas a mãe, mas também ao pai.

Em Efésios 6.1, a palavra no original para que os filhos sejam obedientes aos pais é “yoneusin” que significa “pais” genericamente falando, ou seja, pai e mãe. Mas, no início do verso quatro a palavra usada é “pateres”, que se refere a figura do pai, do homem. 

Esta não é uma responsabilidade do Governo ou de uma instituição de ensino. A responsabilidade pela formação de nossos filhos é nossa como pais, como casal. Não apenas da mulher, mas também do homem.

Quando, como homens, não ocupamos o nosso lugar na formação de nossos filhos, mas achamos que esta responsabilidade cabe somente as mulheres, deixamos um vácuo emocional e de insegurança na vida de nossos filhos.

No caso das meninas faltará um referencial masculino saudável que lhe de segurança e um claro conceito do que seja um homem forte e amável. No caso do menino, faltará a figura de um modelo masculino saudável que ele poderá tomar para norteá-lo em seu desenvolvimento social e emocional.

Precisamos ter a convicção de que o Governo não tem autoridade dada pela revelação bíblica para ingerir sobre nossa responsabilidade de pais na formação de nossos filhos. E não podemos transferir esta responsabilidade para a escola, babás, ou mesmo a igreja. Estas instituições e pessoas são complementares a tarefa que precisa ser exercida por nós como pais.

“Meu filho, obedeça às minhas palavras e no íntimo guarde os meus mandamentos. Obedeça aos meus mandamentos, e você terá vida; guarde os meus ensinos como a menina dos seus olhos.” (Provérbios 7.1-2)

Boa parte daquilo que nossos filhos contemplarem em nós é o que eles irão reproduzir em suas vidas.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Aliança conjugal



Veja o vídeo:

 http://youtu.be/jyKK-9Ppkac

Existe um anseio presente no mais profundo do coração do ser humano por compromisso, por pertencimento, por fidelidade e exclusividade. E, embora haja em nossa cultura contemporânea um sistema que insisti em combater estas realidades, não há como negar que elas existem.

Essa canção tem feito sucesso nas rádios de nosso país. Eu a ouço constantemente na rádio, e é uma canção que fala do anseio por compromisso, e pela prática de ações que alguns querem defender que estão falidas.

O que acontece? Por que é que em meio a uma onda de afirmações que querem negar a exclusividade conjugal, querem afirmar que o casamento já não é uma realidade que as pessoas buscam, que afirmam a conveniência do sexo casual; uma canção como essa faz sucesso?

Entendo que isto é assim porque o ser humano anseia por um compromisso que seja durável e que lhe traga segurança. E entendo também que é justamente porque ansiamos por isto e não sabemos como construir que vemos tantos relacionamentos fadados ao fracasso.

Deixe-me tentar explicar o que quero dizer com isto. Nossa cultura contemporânea criou o conceito do “amor romântico”, a idéia de que para que um relacionamento dure precisamos estar “apaixonados” e precisamos sentir a intensidade disto.

Veja, não quero que achem que não acredito na importância do romantismo em uma relação, mas o que quero que percebamos é a inconsistência do que esperamos que este romantismo seja.

A cultura contemporânea nos comunica através de filmes, séries, novelas e livros a falsa idéia de que um relacionamento será sempre marcado pelo intenso sentimento de paixão que existe no início, ou que achamos que existe, por intensas emoções.

Como a idéia passada é que para permanecer com alguém você tem que estar “apaixonado”, ter sentimentos que sejam continuamente intensos pela outra pessoa, e se isso acabar é porque o amor acabou, e se o amor acabou, então, por você ter direito de ser feliz, deve procurar outro relacionamento.

Ai saímos “apaixonadamente” em busca de um novo relacionamento, pois é o que ansiamos. Mais buscaremos novamente baseado em um pressuposto errado, e mesmo que achemos outro alguém que nos traga sentimentos maravilhosos, com o passar do tempo esses sentimentos não vão se manter como estavam, porque a vida não é um filme que termina com o casal seguindo apaixonados para algum lugar.

Diante disto temos dois caminhos. O da sociedade tradicional que dizia e diz que devemos ficar juntos até que a morte nos separe, mesmo que seja em uma relação que não tem nenhum sentimento, nenhuma beleza, nenhum romance, mas que é melhor assim do que se separar, pois a família é a coisa mais importante que existe.

O outro caminho é o proposto pela cultura contemporânea que diz que temos o direito de ser felizes e se não estamos felizes em um casamento devemos abrir mão e partir para outro, pois esta não era a pessoa ideal para nós, pois o indivíduo é a coisa mais importante que existe.

Estes dois paradigmas desencadeiam uma série de posturas que só servem para criar mais enfermidade em nossas relações. Deixe-me destacar três delas:

  • Pessoas acham que se viverem juntas sem assumirem um compromisso irão conseguir preservar a paixão.
  • Casais abrem mão de sua fidelidade conjugal achando que com casos extra-conjugais poderão manter seu casamento, pois buscam a emoção da paixão em outros lugares.
  • Casais substituem o afeto e construção que deveriam fazer em seus casamentos pelos filhos.

Estas e outras posturas surgem para amenizar o problema, mas só o pioram!

Ai vem as vozes de movimentos afirmando que o casamento está em colapso e que não adianta procurar lutar por algo que já está perdido. Mas será que está? Será que não existe uma alternativa?

Entendemos que existe e que devemos entrar no combate por ela. A alternativa que existe é aquela que nos é apresentada pela espiritualidade bíblica. A Bíblia explica o porque que ansiamos por relacionamentos que sejam duráveis e nos mostra como é que podemos construí-los em nosso casamento.

A palavra que a Bíblia usa para isto é aliança! Agora o que é uma aliança? Este é um conceito que está cada vez menos presente no consciente de nossa cultura contemporânea ocidental.

Conforme a Bíblia aliança é um compromisso entre duas partes com o testemunho de uma terceira, que geralmente é uma divindade ou autoridade. Existem exemplos na Bíblia de alianças entre amigos, entre nações e entre um homem e uma mulher. Chamamos estas alianças de “alianças horizontais”.

A Bíblia nos apresenta um outro tipo de aliança também, maior e mais poderosa que é a aliança entre Deus e o ser humano. Chamamos esta aliança de “aliança vertical”.

Aliança na perspectiva bíblica, então, é um compromisso formal e legal, mas que é mais do que um contrato, pois ela é tomada na presença de Deus e tem como objetivo fornecer as bases, o alicerce para que uma determinada decisão seja mantida.

Conforme a Bíblia, portanto, quando nos casamos com alguém, nós entramos em uma aliança com esta pessoa, diante de Deus. E é esta aliança que dará o sustento para a manutenção e a construção de um relacionamento de amor que será consistente e durará até que a morte nos separe.

A questão é que hoje em dia, influenciados pela cultura utilitarista nas relações, a maioria dos relacionamentos não são construídos em torno deste conceito da aliança conjugal, mas é este conceito de aliança conjugal que continua presente no fundo do coração de todo ser humano. Veja este exemplo:

“MARIDO RICO

Saiu no Financial Times (maior jornal sobre economia do mundo).
Uma moça escreveu um email para o jornal pedindo dicas sobre "como arrumar um
marido rico".
Contudo, mais inacreditável que o "pedido" da moça, foi a disposição de um rapaz
que, muito inspirado, respondeu à mensagem, de forma muito bem fundamentada.

Leiam...
E-mail da MOÇA:
"Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem articulada e tenho classe. Estou querendo me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste jornal, ou alguma mulher casada com alguém que ganhe isso e que possa me dar algumas dicas? Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso. E 250 mil por ano não vão me fazer morar em Central Park West. Conheço uma mulher (da minha aula de ioga) que casou com um banqueiro e vive em Tribeca! E ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente. Então, o que ela fez que eu não fiz? Qual a estratégia correta? Como eu chego ao nível dela? (Raphaella S.)"

Resposta do editor do jornal:

"Li sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz
uma análise da situação. Primeiramente, eu ganho mais de 500 mil por ano. Portanto, não estou tomando o seu tempo a toa... Isto posto, considero os fatos da seguinte forma: Visto da perspectiva de um homem como eu (que tenho os requisitos que você procura), o que você oferece é simplesmente um péssimo negócio. Eis o porquê: deixando as firulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples, proposta clara, sem entrelinhas : Você entra com sua beleza física e eu entro com o dinheiro. Mas tem um problema.
Com toda certeza, com o tempo a sua beleza vai diminuir e um dia acabar, ao contrário do meu dinheiro que, com o tempo, continuará aumentando. Assim, em termos econômicos, você é um ativo sofrendo depreciação e eu sou um ativo rendendo dividendos. E você não somente sofre depreciação, mas sofre uma depreciação progressiva, ou seja, sempre aumenta! Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5 ou 10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano. E no futuro, quando você se comparar com uma foto de hoje, verá que virou um caco. Isto é, hoje você está em 'alta', na época ideal de ser vendida, mas não de ser comprada. Usando o linguajar de Wall Street , quem a tiver hoje deve mantê-la como 'trading position' (posição para comercializar) e não como 'buy and hold' (compre e retenha), que é para o quê você se oferece... Portanto, ainda em termos comerciais, casar (que é um 'buy and hold') com você não é um bom negócio a médio/longo prazo! Mas alugá-la, sim! Assim, em termos sociais, um negócio razoável a se cogitar é namorar. Cogitar... Mas, já cogitando, e para certificar-me do quão 'articulada, com classe e maravilhosamente linda' seja você, eu, na condição de provável futuro locatário dessa 'máquina', quero tão somente o que é de praxe: fazer um 'test drive' antes de fechar o negócio... podemos marcar?"
(Philip Stephens, associate editor of the Financial Times - USA)”

Em resumo: conforme a cultura contemporânea ocidental o nosso relacionamento conjugal é construído a partir dos nossos sentimentos, que são voláteis, e com um enfoque utilitarista. E, conforme a proposta bíblica, o nosso relacionamento conjugal deve ser construído a partir da aliança, de um compromisso que assumimos de nos doarmos um ao outro para a construção de um relacionamento que seja duradouro, com a ajuda de Deus.

Como diz Stephen Kenitz:

“Homens e mulheres que conheceram alguém ‘melhor’ e acham agora que cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento. O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre”. 
Como isto pode ser feito? Como podemos entrar em combate pela preservação da aliança conjugal? 

Em Efésios 5.18-33 encontraremos uma série de orientações que nos auxiliam neste combate.


PRECISAMOS RECONHECER OS PAPÉIS NA ALIANÇA CONJUGAL.

“Mulheres, sujeitem-se cada um a seu marido, como ao Senhor.... Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela.” (Efésios 5.22, 25)

Para que possamos lutar pela aliança conjugal é necessário que primeiramente reconheçamos que há papéis a serem desempenhados dentro desta aliança.

Comecemos observando que há gêneros na aliança: mulher e homem. Isso nos remete a Gênesis 2, ao contexto da criação boa e perfeita de Deus. Texto que será citado mais adiante neste contexto de Efésios.

“Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne.” (Gênesis 2.24)

Por mais que haja protestos e acusações por parte de algumas pessoas a este fato, a Bíblia não abre qualquer precedente para o conceito de aliança conjugal, o que chamamos de casamento na perspectiva bíblica, entre duas pessoas do mesmo sexo.

Para que possa haver uma aliança conjugal é necessário que haja um homem e uma mulher e que ambos estejam dispostos a se comprometerem um com o outro, assumindo que eles se tornarão uma família.

No texto de Efésios também fica expresso que há diferença entre os papéis assumidos pela mulher e pelo marido.

A mulher tem como missão apoiar o marido na aliança conjugal, e isto é feito a medida que ela assume sua postura de auxiliadora idônea, que está ao lado do marido para ajudá-lo com a missão que Deus lhe confiou de ser o líder de um lar que está se formando.

O marido tem como missão liderar sua família, seu lar, que começa por sua própria esposa com fidelidade, amor e sacrifício. Esta é a missão que ao marido é referendada quando o apóstolo Paulo relaciona sua atuação para com sua esposa na mesma medida da atuação de Jesus Cristo para com a igreja.

Assim, sem que haja o reconhecimento de que em uma aliança conjugal há papéis definidos a serem assumidos, não haverá como lutar pela manutenção da mesma. Quando em um casamento um dos cônjuges começa a querer disputar posição ou negar seu papel a aliança está comprometida.

Entendo que isto é de suma importância dentro do contexto cultural contemporâneo em que vivemos, pois tem havido um número cada vez maior de mulheres que, pelo sucesso profissional que obtiveram e a liberdade financeira que alcançaram, tem confundido seus papéis na aliança conjugal.

Também vejo que há um número cada vez maior de homens que tem se acovardado com a responsabilidade de serem líderes em seus lares, se escondendo atrás de seus trabalhos, na melhor das hipóteses, e demonstrando uma insegurança assustadora diante da tarefa de serem os sustentáculos emocionais e espirituais de suas casas.

PRECISAMOS NOS COMPROMETER COM NOSSOS DEVERES NA ALIANÇA CONJUGAL.


“Sujeitem-se uns aos outros por temor a Cristo.” (Efésios 5.21)

“Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo.” (Efésios 5.28)

Estive em um encontro onde fui exposto a uma exegese muito interessante deste texto.

Conforme o expositor bíblico que estava nos conduzindo na meditação do texto, o apóstolo Paulo em Efésios 5.21-6-9 está convocando os homens cristãos de sua época a uma postura que era completamente contra-cultural.

Isso porque no contexto sócio-cultural greco/romano do Primeiro Século o homem de uma casa, de um clã, era o “patronus” e tudo e todos eram submetidos a ele, sendo o mesmo o centro da vida social e familiar, tendo precedência sobre tudo o mais.

As ordens que Paulo dá as mulheres, filhos e escravos, eram ordens que naturalmente seriam cumpridas, pois se não o fossem, haveriam consequências a serem arcadas. Mas as ordens dadas por Paulo ao homem como marido, pai e senhor, eram completamente fora do contexto sócio cultural de sua época.

Este é um ponto importante para que possamos compreender que conforme a Bíblia se nos tornamos seguidores de Jesus Cristo, se o evangelho nos alcança, não é mais a cultura contemporânea quem dita as regras para nossa vida, mas a cultura do Reino de Deus que é expressa pela Palavra de Deus aplicada e orientada pelo Espírito Santo aos nossos corações.

Qual é o nosso dever como cônjuges quando entramos em uma aliança conjugal? É que sejamos fiéis um ao outro e que trabalhemos para a construção de um relacionamento de amor.

Veja que o texto bíblico diz que os maridos da mesma forma que Jesus ama a igreja devem amar a sua esposa. Não é uma sugestão, não é um argumento baseado no sentimento, mas uma ordem.

Isso em nosso contexto também é profundamente contra-cultural porque a cultura contemporânea considera o amor, em essência, como uma espécie de sentimento. Assim, no contexto cultural em que vivemos se não temos mais um determinado sentimento, então, não temos mais amor, e se não temos mais amor não temos mais a obrigação de permanecer casados.

Mas, no contexto bíblico, o amor é visto primeiramente como uma decisão, um compromisso que assumimos e que por permanecermos fiéis a ele gera em nós sentimentos profundos pelo outro.

Por isso é importante para casais que haja o estabelecimento de um pacto, uma cerimônia que será a base de nosso alicerce relacional, que nos ajudará a manter nossa aliança conjugal, pois quando as dificuldades chegarem, quando os sentimentos não estiverem a flor da pele, não iremos decidir por terminar, não iremos ceder ao conceito contemporâneo de que o amor acabou e de que precisamos encontrar um parceiro melhor.

Iremos, antes, nos lembrar que temos um dever, que assumimos um compromisso diante de Deus de amar um ao outro, e que podemos trabalhar pela restauração, construção, manutenção deste amor, através do exercício do respeito, paciência, aceitação e perdão.

Acho que não é demais relembrar a citação de Stephen Kenitiz:

O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre”. 

Todo casamento passa por momentos de altos e baixos, toda relação passa por fases de crise, isso não significa que devamos abrir mão da relação. Mas se baseamos nosso amor em meros sentimentos e não no dever que assumimos de amar um ao outro é o que faremos.

Com isso eu não estou dizendo que não existem contextos onde uma relação tenha que terminar. A Bíblia abre possibilidades para o divórcio, para o fim de uma aliança conjugal. Contudo a Bíblia apresenta isso como uma consequência série, que é produto da dureza do coração humano, resultado de quebra na fidelidade ou no abandono do respeito ao outro.

Deus nunca nos apresenta o divórcio como uma opção natural, que deva ser escolhido por um casal sem que antes tenha sido feito de tudo para que a relação seja restaurada. Quando nossa sociedade lida com a questão da separação ela o faz a partir de uma postura individualista e utilitarista, onde eu abro mão do outro, porque o outro já não produz em mim o que produzia antes. Isso não é amor. Quem se relaciona assim nunca amou o outro, amava o que o outro podia lhe proporcionar. O amor bíblico é sempre altruísta, é sempre uma entrega em busca de dar ao outro o de melhor que pode ser dado.

E devemos fazer isso por temor a Cristo. A ordem que as Escrituras nos dá para que nos sujeitemos uns aos outros está baseada no fato de que somos pessoas que realmente levamos nosso relacionamento com Jesus Cristo a sério.

E podemos fazer isso porque Deus fez isso por nós. Dependurado em uma cruz, Jesus Cristo olhou para nós, olhou para aqueles que o traíram, o negaram, o prejudicaram e escolheu assumir o seu dever de nos amar com um amor redentor, em submissão a vontade do Pai.



PRECISAMOS DE UM PODER SOBRENATURAL PARA MANTER UMA ALIANÇA CONJUGAL.

“Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito.” (Efésios 5,18)

Quando pensamos no casamento, biblicamente, como já citado, nossa mente precisa se voltar para Gênesis 2, onde iremos contemplar a narrativa da boa e perfeita criação de Deus.

“Com a costela que havia tirado do homem, o SENHOR Deus fez uma mulher e a levou até ele. Disse então o homem: Esta sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne.” (Gênesis 2.22-24)

O casamento não é uma invenção humana, conforme defende a sociologia, visando a preservação das posses. O casamento foi instituído por Deus, conforme a narrativa da revelação bíblica, visando o estabelecimento da união entre um homem e uma mulher, buscando a plenitude do ser humano.

O texto de Gênesis chama esse acontecimento de “unir-se”. Literalmente “apegar-se” que tem o sentido no original hebraico de “ser colado a algo”. Esta é a palavra que é usada para referir-se a união de alguém por meio de uma aliança, de uma promessa de compromisso. 

Contudo, em Gênesis 3 somos informados de que algo aconteceu que quebrou o poder da harmonia que havia entre homem e mulher como resultado da criação boa e perfeita de Deus.

A Queda, que é o conceito teológico para explicar a deformidade presente em nosso mundo, rompeu o relacionamento do ser humano com Deus e o tirou de sua fonte de graça e poder, lançando o ser humano a uma postura de vida egoísta.

Agora a relação harmoniosa que existia entre homem e mulher como fruto da vida de Deus presente neles, é substituída pela amargura e competitividade egocêntricas que passa a existir no coração do ser humano.

Essa é a explicação que nos é dada por Jesus Cristo para que haja a realidade do divórcio presente entre os seres humanos. Não fomos criados para uma relação conjugal de ruptura, mas a mesma acontece, devido a dureza do coração humano.

Assim, para que tenhamos absoluta condição de lutar pela manutenção da aliança conjugal é necessário que nos submetamos novamente ao governo de Deus sobre nossas vidas.

Quando rendemos nosso ser ao governo amoroso de Deus, mediante o acolhimento do evangelho: do reconhecimento de nossa rebelião, nosso arrependimento para com ela e aceitação de que Jesus Cristo morreu e ressuscitou para nos reconciliar com Deus. Então, passamos a ter a presença de Deus em nós através do Espírito Santo e a medida que nos submetemos a ele recebemos a liberação do poder de sua vida e conseguimos ser naturalmente sobrenaturais.

Isso aplica-se ao casamento, aquele que já está acontecendo, ou aquele que vier a acontecer, na medida que conseguimos nos sujeitar uns aos outros, porque o poder do Espírito Santo nos capacita para fazermos isso.

Quando nos rendemos ao amor de Deus por nós, passamos a compreender que nós não somos o centro de todas as coisas, e que nem nosso casamento é o centro de todas as coisas, mas que nós, o casamento, a família e tudo o mais, existem para trazer glória a Deus, que é o centro de todas as coisas.

Assim, quando nos tornamos autênticos seguidores de Jesus Cristo, nosso casamento passa a ser uma bênção, não porque não tenha problemas, desencontros, desentendimentos, ou porque estamos sempre nos “sentindo apaixonados”.

Nosso casamento se torna uma bênção porque somos reconduzidos aos propósitos originais de Deus para o casamento, o sexo, e tudo o mais que fazemos em uma relação a dois, que é ajudar um ao outro a amadurecer e se parecer cada vez mais com Jesus Cristo e assim experimentar a realidade do amor de Deus.

Como diz Tim Keller:

“Quando, ao longo dos anos, alguém vê o que você tem de pior e conhece você com todos os seus pontos fortes e falhas e, ainda assim, se compromete inteiramente com você, isso é uma experiência completa e suprema. Ser amado sem ser conhecido é confortador, mas superficial. Ser conhecido e não ser amado é nosso maior medo. Mas ser plenamente conhecido e verdadeiramente amado é muito parecido com ser amado por Deus. E é disso que precisamos mais do que qualquer outra coisa. Esse amor nos liberta da presunção, nos humilha a ponto de abandonarmos a hipocrisia e nos fortalece para qualquer dificuldade que a vida trouxer.”

Este é o amor de aliança! É o amor da aliança conjugal pela qual devemos entrar em combate. E só é possível vencer se contarmos com o poder sobrenatural do Espírito Santo de Deus vivendo em nós e nos conduzindo a realidade da essência do casamento.