segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Experimentando a liberdade


Liberdade é um anseio no coração de todo ser humano. Contudo, nossa sociedade confunde liberdade com libertinagem, pois faz da mesma uma busca pela satisfação própria. Mas, a verdadeira liberdade, só pode ser experimentada na presença de Deus. Conforme o apóstolo Paulo diz em Gálatas 5.1, "foi para a liberdade que Cristo nos libertou", mas a religião está sempre nos pressionando de volta a uma vida de escravidão. Achamos que precisamos melhorar, fazer mais, sermos melhores para nos apresentarmos a Deus. Esquecemo-nos que o caminho foi aberto por Jesus Cristo, pelo que ele fez na cruz, se tornando pecado por nós e reconciliando-nos com Deus. Através de Jesus Cristo podemos nos apresentar a Deus do modo como somos, sem tentar ordenar nada em nós, confiados apenas que o perdão de Deus está sobre nós pelo sangue do Cristo. Quando isso acontece, então, encontramos a verdadeira liberdade. Passamos a entender que não é preciso dominar a nós mesmos para irmos a Deus. Isso não significa que não ansiemos e não trabalhemos para melhorar, fazemos isso, mas uma vez mais lembremo-nos do apóstolo Paulo que, em Romanos 7, nos ensina que por mais que nos esforcemos em busca do certo, sempre de novo nos deparamos com nossa estrutura pecaminosa e com nossa queda. Assim, se estendemos nossas mãos vazias ao Pai, vamos nos sentir absolutamente livres, livres de tentar fazer com que nossa vida dê certo, de tentar melhorar a nós mesmos, livres de toda auto-acusação, livres de toda expectativa, pois sabemos que nossa liberdade está em Cristo. Assim, podemos dizer: graças porém a Deus que nos enviou seu Filho Jesus Cristo. Se é para liberdade que Cristo nos libertou, vivamos livres!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

COMUNICANDO O EVANGELHO EM UMA CULTURA PÓS-MODERNA


Introdução

Quando falamos em comunicação do Evangelho hoje temos um grande desafio diante de nós. Mas esse grande desafio não é novo. Os próprios apóstolos e primeiros discípulos tiveram que lidar com ele.

A própria Revelação demonstra e impõe a nós como Igreja no Século XXI a necessidade de encarar esse desafio. Essa é uma necessidade missiológica. A questão é:

Como podemos comunicar o Evangelho de modo pertinente e contextualizado sem incorrer no risco de perdermos os fundamentos básicos do mesmo e sem torná-lo uma propriedade exclusiva de alguns?

Dois exemplos bíblicos.

Esse dilema, como dissemos, não é novo! Dois exemplos bíblicos nos ajudam a ver como os apóstolos tiveram que lidar com isso dentro de sua própria geração.

  1. Gálatas 1.6-10. O apóstolo Paulo lida com a questão de um outro Evangelho que já estava sendo comunicado à Igreja da Galácia que ele acabara de plantar. Tem que chamar a atenção dos irmãos da galácia pelo fato dos mesmos estarem absorvendo um Evangelho que ultrapassara a barreira da contextualização e adentrara o espaço do sincretismo. O apóstolo Paulo tem que lidar com essa questão em outros contextos de seu ministério, como em Colossos (Colossenses 2.16-19) e as orientações que passa a Timóteo (1Timóteo 4.1-5; 2Timóteo 4.1-5).

  1. Atos 10. Nesse texto de Atos temos o que chamamos de “A conversão de Cornélio”. O Senhor envia um anjo até Cornélio que o informa que suas orações e esmolas eram aceitas por Deus e que o mesmo o enviara para orientar a Cornélio em como poderia conhecê-lo melhor. Devia enviar homens a Jope que trouxessem um tal de Simão Pedro para que este os ensinasse a respeito de Deus. Pedro, por sua vez, enquanto jejua e ora, tem uma visão estranha onde o Senhor ordena que ele coma alguns animais cerimonialmente impuros para os judeus. É absolutamente claro que a visão tem a ver com aquilo que Pedro tem a fazer na casa de Cornélio, mas Pedro só se dá conta disso após o Senhor derramar o Espírito Santo sobre os gentios que estavam na casa de Cornélio como havia derramado sobre os 120 no cenáculo.

Assim, se com Paulo temos a questão de se conter um provável sincretismo do Evangelho, com Pedro temos a questão de como impedir que o Evangelho se torne uma propriedade de uma sub cultura.

Lições de casa.

Se como Igreja do Senhor queremos de fato comunicar o Evangelho a nossa geração sem perder sua essência é preciso disposição para fazer algumas “lições de casa”.

  1. Compreender a cultura contemporânea. Isso que chamamos de mundo pós-moderno é a cultura da nossa geração. Alguém já disse que cada geração de cristão no que dista o cumprimento da Grande Comissão só pode alcançar a sua própria geração. E para que isso ocorra é importante, na verdade imprescindível, que compreendamos nossa própria cultura. Compreender e não imitar ou absorver. Penso que a Igreja contemporânea muito mais assimila a cultura do que a compreende. Isso se deve ao fato de desenvolver uma subcultura cristã que achamos ser o Evangelho do Reino, mas que não passa, nada mais nada menos, do que uma imitação da cultura secular. É por demais complexo tentar aqui desenvolver bases que nos auxiliem na compreensão da cultura pós-moderna, mas partindo de Oss Guines podemos ressaltar que a mesma é composta por três pilastras basilares: secularização, privatização, pluralização.
    1. A secularização põe Deus no canto da vida. O mundo pós-moderno não é um mundo que rejeita o Sagrado, mas é um mundo que deseja manipulá-lo.
    2. A privatização põe o outro no canto da vida. Nosso mundo carece de relacionamentos significativos, transparentes, profundos e genuínos, mas a tendência de cada um viver a partir de si mesmo faz com que nossas relações se tornem cada vez mais virtuais, onde o próximo pode ser deletado. Assim como, a ênfase no bem estar individual faz com que a busca pela auto-satisfação se torne a ordem do dia.
    3. A pluralização coloca a verdade no canto da vida. Em uma sociedade onde cada um tem sua suposta liberdade e onde o que importa é a satisfação pessoal é impossível que se faça uma opção por absolutos. Logo não pode haver a verdade, mas verdades conforme a conveniência ou o gosto do freguês.

  1. Compreender o Evangelho do Reino. Nesse momento, talvez, a grande expectativa fosse a de tomar ciência de alguns métodos ou técnicas que pudessem fazer de nós comunicadores melhores do Evangelho. Penso que é importante conhecer e desenvolver metodologias que nos tornem melhores comunicadores, mas isso de nada nos adiantará se não soubermos o que comunicar ou o que comunicamos. Com o temor de estar sendo muito severo aqui, ouso dizer que a Igreja contemporânea perdeu o Evangelho. Não sabemos que Evangelho pregamos, falamos de Deus, falamos de Cristo, anunciamos uma série de verdades, mas elas estão desconectadas. Não é somente porque anunciamos ou usamos o nome de Jesus Cristo que estejamos pregando o Evangelho. Esse é um ponto polêmico, mas é preciso considerá-lo. O que é o Evangelho? Mais precisamente o que é o Evangelho do Reino? Porque se não soubermos isso não adiante discutir como comunicar com a sociedade pós-moderna, pois o que é que comunicaremos? Novamente lidamos com uma questão que não poderemos responder com simplicidade e muito menos com breves palavras. No entanto, a titulo de contribuição para a reflexão assinalemos alguns pontos:
    1. O Evangelho do Reino não é propriedade da Igreja. Não é algo que Deus nos concedeu para ser guardado, não é algo que a igreja contem, mas a igreja é contida por ele. Em outras palavras o Evangelho do Reino está além da Igreja e hora pode envolvê-la mais hora menos, dependendo de nossa própria postura diante dele. É a questão de Pedro e Cornélio. Como o Bispo Leslie Newbegan pergunta em quem se converteu? Cornélio ou Pedro? (The Open Secret).
    2. O Evangelho do Reino não tem como finalidade meramente o ser humano, embora dê atenção especial a esse. O Evangelho não é uma mensagem antropocêntrica. Não está em voga o ser humano e sua felicidade, a humanidade é um dos alvos da redenção, mas essa vai muito além da garantia de liberdade do inferno, a garantia de um lugar no céu e de felicidade e vitória na terra.
    3. O Evangelho do Reino é o anuncio de que todas as coisas foram resgatadas e estão sendo restauradas através da remissão que obtemos em Jesus Cristo e que a manifestação disso se dá na história à medida que nos rendemos ao Senhorio de Jesus Cristo e aprendendo a viver nossa humanidade com ele (Efésios 1.22).

Uma vez que compreendemos esses dois pontos vamos entender que para comunicar o Evangelho em nossa cultura contemporânea precisamos, como Igreja, manter o equilíbrio entre uma radical diferença e total aproximação. Entenderemos que a mensagem que pregamos gera redenção e que isso significa que algumas coisas serão transformadas e melhoradas, enquanto outras serão verdadeiramente rejeitadas e ainda outras, que estão relacionadas a nós como Igreja, precisarão ser adaptadas. Somente mediante uma real e intensa busca de Deus e sua direção diária para nossas vidas é que isso será possível.