quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Entrando em um novo ano.


Estamos encerrando mais um ano.
A expectativa das pessoas, em geral, quanto a esse momento do ano é de grande expectativa. Se pararmos para pensar e formos lógicos, vamos constatar que nada mudará. Não existe nenhum elemento mágico que faça com que uma noite que dá espaço para um novo dia mude realidades. Mas, se pensarmos pelo contexto da graça, tivermos uma mentalidade teológica, veremos que foi o próprio Deus quem possibilitou essa análise e esperança. No primeiro livro da Bíblia, chamado Gênesis (que significa princípio), em seu primeiro capítulo temos a narrativa da criação do mundo. Esse processo é marcado pelo refrão: "viu Deus que ficou bom, houve tarde e manhã; esse foi o primeiro dia....o segundo dias...e assim sucessivamente. No final da criação, a constatação de Deus é que ficou tudo muito bom e ele então descansou (idéia de que se satisfez com tudo o que havia feito até ali e queria apreciar isso). Quero chamar sua atenção para o fluxo do tempo nesse texto: "tarde e manhã". Percebeu? "Tarde e manhã" e não "manhã e tarde". O nosso tempo na Bíblia é contato da tarde (que significa final de tarde início de noite) e manhã e não vice-versa. Isso demarca para mim e para você que a nossa vida é uma resposta aquilo que Deus está fazendo e não ao contrário. Nossa sociedade nos estimula a viver "manhã e tarde", na idéia de que somos nós que temos que fazer a vida acontecer, fazer as coisas acontecerem e que Deus vem participar disso, vem em nosso socorro ou auxílio, quando o convocamos, ou convidamos, quando julgamos ser conveniente. Contudo, na perspectiva bíblica, Deus está operando, Deus está construindo e conduzindo a vida, e ele nos cria, convida e convoca, para participar do que ele está realizando.
Talvez, em nossa cultura, o único dia no ano que vivemos esse fluxo da "tarde e manhã" seja no dia 31 de Dezembro para 1 de Janeiro. A expectativa de que algo irá se renovar, uma nova possibilidade surgirá, independente de nossas ações e esforços. Há uma propaganda na Rede Globo de televisão que tenta expor mais uma vez a idéia de que o fazer acontecer está em nossas mãos, para que um novo ano aconteça. Não estou dizendo que não temos responsabilidades, ou que não temos que fazer nada. O que estou dizendo é que participamos do que já está sendo feito, não iniciamos nada.
Então, que venha o novo ano, mas que ele venha com o Senhor que fez e faz o céu e a terra.
Feliz 2009

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Somos todos pródigos


O poema abaixo foi escrito por um companheiro de jornada e um amigo que tenho aprendido a amar e respeitar, seu nome é Arnoldo Mendonça. Bom proveito:

Pai
Palavra
Coração...

Gosto de paralelos
Gosto de parábolas
Pois ajudam a fazer-me entender
Verdades que de outras formas
Ficariam distantes do meu coração!

Adão criado e formado por Deus
Adão gestado no coração de Deus
Adão com a imagem de Deus
Adão à semelhança de Deus
Adão foi o primeiro pródigo!

Pai sentindo a dor
Ao ver o seu Adão se afastando
Deixou vazio o coração

Pai com amor incondicional
Acompanhou seu Adão
E de braços abertos
O abraçou de volta!

Palavra criando coisas
Palavra criando tudo
Palavra criando Adão
Palavra unindo-se a Adão
Palavra morrendo por Adão

Só para abraçar mais uma vez o pródigo Adão
Só para resgatar o pródigo Adão
Só para receber de braços abertos o pródigo Adão

Só para abraçar mais uma vez o pródigo...
Só para resgatar o pródigo...
Só para receber de braços abertos a mim, o pródigo!

Somos todos pródigos
Somos pródigos porque somos filhos
Somos filhos porque temos Pai

Pai de braços abertos...
Palavra encarnada na humanidade...
Coração com a imagem de Deus gravada para sempre!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

É Natal


Estamos na semana do Natal.
Há uma grande confusão quanto ao verdadeiro sentido do Natal. Muitos referem-se ao "Papai Noel" como o personagem mais famoso do Natal, mas Natal fala-nos do nascimento do Messias, da encarnação de Deus, da entrada de Deus na história humana na pessoa do ser humano Jesus de Nazaré. Mas, pensando bem, analisando toda a proposta do Evangelho e toda a revelação bíblica, não deveríamos esperar por algo diferente. Será que aquele que não encontrou lugar para nascer em uma hospedaria, não buscou o brilho dos palácios, iria ser a "manchete", a figura principal do Natal? Lembre-se que o Reino de Deus, revelado no seu Rei, é oculto. Uma santa conspiração está acontecendo em nosso planeta e na história humana. Uma conspiração de amor, de bondade e de graça. Somente aqueles que estão disponíveis, como os pastores de Belém é que se dão conta de que tem anjos anunciando. Somente aqueles que estão alertas, como os magos do Oriente é que percebem que tem estrela brilhando. No meio de toda a correria das compras de Natal, dos enfeites brilhantes dos Shoppings, do barulho de fogos e canções nas ruas da cidade, somente aqueles que aquietam seu próprio coração é que se darão conta, de que o Rei está presente.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Substantivo


Tenho pensado bastante sobre o significado de ser um cristão.
A palavra cristão foi usada pela primeira vez na Bíblia como um substantivo. Em Atos 11.26 somos informados que a população da cidade de Antioquia começa a chamar aqueles que eram seguidores de Jesus Cristo de "cristãos". Penso que aqui nos deparamos com um dos maiores problemas que temos com o Cristianismo contemporâneo. No nosso contexto transformamos o substantivo "cristão" em um "adjetivo". Hoje nós temos "música cristã", "lanchonete cristã", "cultura cristã", "escola cristã", "filme cristão", "atleta cristão", "artista cristão" e etc. A palavra cristão, quando mantida como substantivo é uma maravilha, ela falar de gente que segue os passos de Jesus Cristo. Gente que levou tão a sério os ensinos de Jesus e a vida de Jesus que são influenciados e estão dispostos a viverem de fato como ele. Mas, quando usamos a palavra cristão como um adjetivo, então a descaraterizamos. A transformamos em exclusivismo, nos tornamos pessoas antipáticas e segregárias. Jesus disse que nos enviava ao mundo, os cristãos, assim como o Pai o havia enviado ao mundo. Isso significa que somos pessoas chamadas para representar a vida de Jesus e a realidade do Reino de Deus no mundo que nos cerca. Somos chamados para amar e acolher as pessoas como Jesus as ama e as acolhe. Somo chamados para curar e perdoar no nome de Jesus, anunciando em seguida que um novo Reino está a disposição da pessoas. Minha oração e compromisso de vida é ser um cristão, um autêntico seguidor de Jesus Cristo e não ter um adjetivo na frente da minha vida. Tudo o que faço e quero fazer procedem de um coração que anseia ser simplesmente como Jesus. O mundo não precisa do "adjetivo cristão", mas anseia profundamente em encontrar novamente o "substantivo".
Siga firme!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Verdades fundamentais de minha vida com Deus.


Compartilho com você uma lista 12 pontos que tem servido para me ajudar na caminhada de aprender a ter um relacionamento consciente e consistente com Deus no meu dia-a-dia. Os pontos não foram criados por mim, você pode encontra-los no livro de John Ortberg, "Deus está mais perto do que você pensa", Editora Vida. A leitura desse livro é obrigatória para todos aqueles que realmente desejam uma vida de caminhada diária com Deus, juntamente com o livro "A Pratica da Presença de Deus", que em português traz um resumo dos livros do Irmão Lourenço e Frank Laubach. Vamos aos pontos:

- Deus está sempre presente e ativo em minha vida, independentemente de eu vê-lo ou não.
- Vir reconhecer e experimentar a presença de Deus é um comportamento aprendido; eu posso cultivá-lo.
- Minha tarefa é encontrar Deus neste momento.
- Sou sempretentado a viver "fora" deste momento. Quando eu o faço, perco o senso da presença de Deus.
- Às vezes Deus parece longe por razões que não entendemos. Esses momentos também são oportunidades para aprender.
- Sempre que eu fracasso, posso recomeçar imediatamente.
- Ninguém sabe em que medida o ser humano pode experimentar a presença de Deus.
- O meu desejo por Deus oscila, mas o desejo dele por mim é constante.
- Cada pensamento tem uma "carga espiritual" que me move para um pouco mais perto ou um pouco mais longe de Deus.
- Cada aspecto de minha vida - trabalho, relacionamento, lazer, incumbências - é de imenso e genuíno interesse de Deus.
- Meu caminho para experimentar a presença de Deus não será totalmente parecido com o de outra pessoa.
- Forçar e tentar demais não ajuda.

Reveja essas verdades uma vez por dia durante duas semanas enquanto você cultiva a prática da presença de Deus.

domingo, 23 de novembro de 2008

A Face de Deus


Não tem sido fácil postar com a regularidade que eu gostaria aqui, mas um dos motivos é que decidi não fazer desse blog um projeto de desempenho pessoal. Quero postar aqui apenas a partir do que de fato seja relevante em minha própria vida e não meramente por desempenho. Assim, peço a você que me acompanha aqui a ter paciência e a não desistir de sempre vir dar uma espiada para ver se há algo de novo.
Bem, essa semana fui levado a dar uma nova olhada na história de Jacó e me deparei com um texto muito significativo. Encontrasse em Gênesis 33.10 que diz o seguinte: "Mas Jacó inisistiu: Não! Se te agradaste de mim, aceita este presente de minha parte, porque ver a tua face é como contemplar a face de Deus; além disso, tu me recebeste tão bem!" O que chamou minha atenção nesse texto foi a expressão que Jacó usou para se referir a seu irmão Esaú, "ver a tua face é como contemplar a face de Deus". Vamos pensar por um minuto; 20 anos atrás Jacó saiu de sua terra, do meio de sua família, fugido, para evitar enfrentar o ódio de Esaú por ele. Jacó, orientado pela própria mãe, havia ludibriado o pai para receber a bênção da primogenitura no lugar de seu irmão Esaú. Como resultado desencadeou-se um grande conflito familiar, onde Esaú resolveu que mataria seu irmão Jacó, após a morte de seu pai. Tendo conhecimento do fato Jacó foi aconselhado pela mãe a ir embora para uma terra distante, a procura da família da mãe, onde estaria seguro.
A saga de Jacó se desenvolve ao longo de 20 anos, começando com Deus se revelando para ele em Betel, onde Jacó tem um sonho e descobre que Deus está mais perto do que imagina, e terminando em Jaboque, onde Jacó tem um embate com o próprio Deus e sai quebrantado e transformado. Agora ele está pronto para encontrar seu irmão Esaú e o resultado do encontro é restauração e reconciliação. O resultado do encontro é que no lugar de um Jacó usurpador e enganador, Esaú vê-se diante de um homem amadurecido, sábio e humilde. E Jacó se vê diante do "próprio" Deus.
Pense comigo! Somos parte de uma sociedade imediatista o que acabou gerando em termos de "espiritualidade" uma espécie de busca de relação mágica com Deus, aonde esperamos que realidades em nossas vidas sejam transformadas da noite para o dia. Contudo, passaram-se 20 anos para Jacó! E nesse tempo todo, Deus esteve perto, Deus esteve trabalhando e usando os vários acontecimentos diários da vida para moldar Jacó.
Você acha que isso é diferente com você? Tenha paciência, pois Deus está trabalhando. Daqui a "20 anos" podemos nos encontrar, de repente, diante de algum "Esaú" e o que iremos contemplar poderá também ser "a face de Deus".

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Você a minha imagem e a minha semelhança


A Bíblia diz que o ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26). Isso significa que todo ser humano tem um valor intrínseco em si e que, por conta disso, deveríamos respeitar e acolher cada pessoa que entra em relacionamento conosco com amabilidade, reverência e liberdade. Contudo, um dos principais motivos de presenciarmos relacionamentos se desfazendo ou permanecendo em um nível superficial é a tendência que temos de querer fazer do outro a "nossa imagem e a nossa semelhança". Quando a outra pessoa não age como achamos que deveria agir, ou, quando o outro não responde a nossas expectativas sempre temos uma avaliação negativa a fazer. Tiago 3.9 adverte-nos do perigo de usar a nossa língua para glorificar a Deus e ao mesmo tempo amaldiçoarmos (falarmos mal) do próximo. Conheço um número cada vez maior de pessoas feridas e desestimuladas a se entregarem a um relacionamento autentico e de vínculos profundos, porque ao tentarem fazer foram abusadas, pois alguém estipulou um perfil e uma postura que deveriam ser assumidos pelo outro e não tendo sido, perdeu a liberdade de ser quem é. Conheço outras pessoas que fizeram a opção de representar uma postura diante dos outros, mas por trás são totalmente diferentes. É o famoso "ser politicamente correto". Particularmente, não estou disposto a ser politicamente correto, não estou disposto a fingir que as coisas são o que não são. Jesus nos chamou para uma vida autêntica, para uma vida que é vivida as claras e que dá ao outro o direito do mesmo também viver a sua vida as claras e de modo autentico. Não estou dizendo que devemos usar desse pretexto para sermos mal educados com os outros. Estou dizendo que precisamos trabalhar a nossa própria vida para sermos parecidos com Jesus e, assim, agir com os outros como Jesus agiria. Precisamos aprender a dar o direito do outro ser livre e ser quem ele é. Precisamos dar a pessoa o direito de não gostar do que gostamos e de não ter que ser como somos. Dar ao outro o direito de se relacionar com liberdade com quem se sente melhor, sem achar que isso significa descaso com os outros. Não queira fazer do outro a sua imagem e a sua semelhança, porque você, assim como ele e como eu, somos deformados. Só existe um caminho a seguir, sermos refeitos a imagem e semelhança de Jesus Cristo (Romanos 8.28-29). Por outro lado, você não deve desistir das relações porque outros o pressionam a responder suas expectativas a seu respeito. O segredo para vivermos de modo livre, assumindo quem somos, não deixando-nos intimidar e escravizar pelas expectativas dos outros a nosso respeito é sabermos quem somos para Deus. Somos gente imperfeita que ele amou, salvou e está transformando a imagem e semelhança de seu Filho Jesus Cristo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

APRENDENDO COM MARIA E MARTA: O que ainda nos falta hoje?


O texto que estou postando hoje é de autoria de minha amada esposa, Susy Costa. Foi uma palestra dada por ela no "Encontro de Mulheres da Comunidade Presbiteriana de Vinhedo".

INTRODUÇÃO:

Passamos todo esse tempo juntas, com a proposta de firmarmos um relacionamento íntimo e significativo umas com as outras. Também fomos desafiadas a nos engajarmos em um projeto evangelístíco que faça diferença pra nossa comunidade e cidade trazendo justiça e paz onde moramos. E creio que estamos realmente motivadas a realizar a missão que Deus tem nos dado de estender o seu reino sobre a terra apartir de onde estamos. Eu realmente espero que isso aconteça primeiro porque somos todas, parte de um mesmo corpo e segundo porque Deus nos criou para as boas obras. (Efés. 2:10)
Mas nada disso será relevante ou transformador, se o fizermos apenas por nossas próprias forças. Até poderemos tentar fazer, mas se tornará um fardo muito pesado para nós. E acabaremos por nos frustrar, ficando com uma terrível sensação de cansaço, vazio, exploração e falta de propósito pra tanto esforço.
Vamos ver o que Jesus tem pra nos dizer?
Ele diz que ”apenas” dois mandamentos devem reger a nossa vida: ame o Senhor teu Deus de todo o seu coração de toda a sua alma, de todo seu entendimento e de todas as suas forças. E “ame ao seu próximo como a si mesmo” (Marcos 12: 30 e 31). Porque o Pai nos dá esses mandamentos e Jesus diz que a lei se resume neles? Porque ele nos criou pra nos relacionarmos com ele e uns com os outros como ele se relaciona com a trindade. Com intimidade, respeito, verdade e amor. E se cumprirmos esses dois mandamentos como convém ao Senhor, todos os outros serão automaticamente cumpridos!
Então o que isso significa?
Lá em João 15 Ele nos trás a figura da videira. E nos fala o quanto é fundamental e necessário estarmos ligados à videira. E mais; ele nos afirma por meio dessa figura tão fantástica, que nada, mas nada mesmo, nós podemos fazer se não for através dele e de acordo com a sua própria vontade.
Vamos ver o texto?
Jesus nos afirma que ele só pode fazer o que vê o Pai fazendo. O que significa que se fizermos muitas coisas, mas se não estivermos ligados à videira, não fizemos nada de útil. Podemos fazer o melhor e com a maior qualidade ou com grande esforço e nada se aproveitará ou frutificará. Mas quando praticamos as boas obras para as quais fomos criadas, porém ligadas à videira, então saberemos que nosso trabalho não foi feito em vão e que seremos recompensadas por isso. E é sobre isso que quero conversar com vocês...
Em Lucas 10: 38 a 42 vemos a história de duas irmãs muito diferentes uma da outra: Marta e Maria, mas que poderiam perfeitamente ter os nomes de Cida e Susy, ou de Carmem e Elizabeth, ou de Sandra e Sueli... Poderia ser qualquer uma de nós.
Marta e Maria eram amigas bem próximas de Jesus... Elas estavam intimamente ligadas a videira. E apesar de serem irmãs, tinham características bastante diferentes, assim como nós. Não podemos dizer que uma era errada e outra certa. Eram apenas diferentes com seus pontos fracos e fortes.
Era mais ou menos assim:
“Maria era a luz do sol para os trovões de Marta. Ou Maria era o freio da locomotiva Marta. Maria era a cigarra enquanto Marta era a formiga. Maria ia cheirar as rosas enquanto Marta passava colhendo-as para fazer um lindo arranjo no vaso da sala. Maria passava o dia bordando toalhas e roupas para a casa, mas Marta... Marta não tinha tempo para isso”. (Joanna e Susy).
Não é assim também entre as irmãs de hoje? Uma gosta mais da cozinha e outra da arrumação da casa. Uma é mais falante e a outra é mais introvertida, uma é mais elétrica, rueira e a outra gosta mais de ficar em casa lendo um bom livro. Lá em casa era assim também e na sua?
Ambas eram hospitaleiras e gostavam de ter a casa cheia de amigos. Elas tinham muitos amigos... Entre eles, o mais querido era Jesus.
Nessa história, aprendemos com Marta e Maria que para permanecer na Videira (Jesus) precisamos:
1- Ter um coração atraído por Jesus.
Marta abre sua casa ao Senhor com o maior prazer, mas para ela isso implicava em muito serviço e de ótima qualidade. Joanna, a autora do livro base do nosso estudo, a compara com a mulher virtuosa de prov. 31. Sua maior característica era o dom do serviço. Servir também era uma forma de se sentir amada e aceita. Mas isso muitas vezes lhe parecia pesado de mais. Já Maria, era puro relacionamento. Para ela, mais importante que fazer, era estar com... Mesmo que muitas vezes ela fosse mal compreendida. Tida como irresponsável ou folgada. Ela não perdia a oportunidade de parar para ouvir as pessoas ou aprender com elas. O que lhe servia de vantagem, porque ela já era propensa a isso. Porém, ambas tinham a Jesus por perto.
Uma visita especial!
Certa ocasião, Jesus passando pela casa delas, como era de costume, foi vê-las e lá se hospedar por um tempo. Ao chegar acompanhado de todos os seus discípulos, foi logo recepcionado por Maria, que fez o máximo para fazê-los sentir-se acolhidos e bem vindos em seu lar (serviço). Ela os recebeu, pegando os seus cajados, lhes oferecendo água e toalha para se lavarem, acomodando-os ao redor da mesa, sobre as almofadas macias, oferecendo água, ou vinho pra beberem, enquanto esperavam pelo jantar... Enquanto isso, Marta estava na cozinha mais atarantada do que nunca! Cheia de coisas na cabeça e nas mãos, sem saber pra onde correr e o que fazer primeiro, afinal o mestre já havia chegado e ela ainda não estava com a janta pronta. No meio dessa correria, ela se dá conta que estava só, com tudo por fazer. E afinal de contas, onde estaria a sua irmã que não vinha ao seu encontro para ajudá-la? O que estaria ela fazendo?
Enquanto isso, Maria ouvindo Jesus falar com seus discípulos, foi ficando cada vez mais encantada. Nunca ouvira alguém falar como ele. Tanta ternura, tanto amor, tanta autoridade! Quanto mais ela O ouvia, mais presa ficava em suas palavras, e devagar foi se chegando até ficar sentada aos seus pés. Esquecera completamente de Marta, da cozinha, de que era uma mulher em meio aos homens, de sua reputação ou qualquer outra coisa ao seu redor. Ela só conseguia beber de Jesus.
Marta cansa de esperar e vai atrás de Maria.
Qual não é a sua surpresa quando ela procura por Maria e a encontra bela e folgada ascentada aos pés de Jesus ouvindo seus ensinamentos. Ela não podia acreditar no que via. Só essa que faltava, ela cheia de coisa pra fazer e Maria lá sentada! Fica muito indignada com aquela situação e corre se queixar ao Senhor.
2- Ter um coração que leva suas mágoas ao Senhor.
Marta pergunta ao senhor em Lucas. 10: 40 e 41: “Senhor, não te importa que minha irmã tenha me deixado sozinha com todo o serviço?”
Obs: se você for como eu, quando muito cansada, sente-se profundamente magoada e com uma enorme vontade de chorar. Se visse uma cena como aquela então, ia morrer de raiva, me sentiria explorada, injustiçada. Principalmente, porque no meu caso, tenho um temperamento mais parecido com o de Maria, do que com o de Marta... Então, além de tudo eu estaria morrendo de inveja de Maria.
O trabalho da cozinha não é fácil. É desgastante e exaustivo. Vc é a primeira a levantar e a última a se deitar por causa da cozinha e quando o nosso foco está fora do lugar, este fardo torna-se insuportável, mesmo para as “martas”. Ficamos tão cansadas que tudo que conseguimos é chorar e nos perguntar porque estamos ali? Qual a razão de continuarmos? Então, nos sentimos injustiçadas. Ficamos indignadas e iradas com a outra, porque a culpamos por estar tranqüilas e curtindo do bom e do melhor a nossas custas, enquanto nós estamos nos acabando de tanto trabalhar. Por vezes, acabamos brigando, nos ferindo, nos magoando e magoando a outra, porque não damos conta de carregar tamanho fardo. Isso só piora a situação. Mas quando levamos nossa queixa ao Senhor como Marta fez, então temos a oportunidade de sermos curadas e transformadas.
Mas o que é a cozinha?
A cozinha é a nossa vida! É o nosso corre, corre de todo dia! Trabalhando dentro e fora de casa na maioria das vezes, passamos de Motoristas de filhos a dona de casa, (ou seria do trabalho da casa)? De empresária a faxineira, de chefe a esposa submissa. É comida, roupa, limpeza, deveres que não acabam mais. E pra piorar, ainda querem o “resto” de tempo que temos, se é que sobrou algum, trabalhando na igreja! Quando vamos ter um tempo pra descansar? Ou pra se divertir? Ou pra nós mesmas? O problema é que tentando controlar, perdemos totalmente o controle! E aí, como diz uma amiga minha, ficamos “exauridas”.
3- Ter um coração aberto a correção do Senhor.
Marta estava exausta! E muito irritada, com Maria e com o Senhor, que afinal, deixou que Maria ficasse ali com ele. Então ela se põe a reclamar com o Senhor que com amor e firmeza responde a queixa de Marta: “Marta! Marta! Vc está preocupada com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”. Lucas 10: 41.
Qual seria sua reação se fosse com você?
Imagine-se nessa situação, reclamando com seu líder na comunidade... Se ele te desse a mesma resposta, como se sentiria? Talvez brigasse com seu líder e dissesse que estava sendo injustiçada. Talvez nem quisesse mais trabalhar na igreja. E se fosse em casa com seu filho ou marido? Mas Marta não ficou injuriada com o seu Senhor, ela acolheu a sua repreensão. Porque Marta confiava no amor de Jesus por ela e porque tinha um coração humilde e ensinável.
Precisamos aprender com Marta, e recebermos a correção do Senhor. Em provérbios 3: 12 diz: pois o Senhor disciplina a quem ama... Essa atitude trás transformação e cura.
Mas o que Marta aprendeu?
O que Jesus está dizendo a Marta?
Que ela não precisava mais ligar pra nada e deixar tudo ao deus dará? Abandonar a casa, a família, o trabalho, a missão e o seu dom de servir, e não fazer mais nada além de se ascentar aos pés do Senhor em contemplação e adoração?
Certamente que não!
Jesus estava falando de um relacionamento de dependência e confiança nele. Estava falando de um relacionamento de amor. Falava da melhor escolha. Da única escolha. Estar ligada a videira.
Uma só coisa é necessária e Maria escolheu a melhor parte. Ambas tinham a mesma oportunidade de escolha. Jesus é tudo de que elas precisavam, assim como seus discípulos, assim como cada uma de nós.
4- Ter um coração controlado pelo Senhor.
Queremos adorar como Maria, mas a Marta dentro de nós continua a nos controlar. Marta queria receber Jesus, desde que estivesse no controle da situação. Se ascentar junto com sua irmã e deixar que Jesus assumisse o controle da situação, estava fora de cogitação. Afinal, era sua responsabilidade, ela era a cozinheira. A janta era por sua conta. Não era hora de conversar. Não é assim com a gente? Mas Jesus não alimentou mais de cinco mil pessoas sem a ajuda de Marta? E na hora certa, também não colocou os seus discípulos para servir? Porém nós insistimos em manter o controle e por isso ficamos esgotadas em nossas forças. E sem forças, passamos a ignorar o convite do Senhor para nós. Ou pior, como Marta estamos muito ocupadas para a sala de estar. Toda a nossa energia se foi, não sobrou mais nada de nós mesmas para o Senhor. Não temos tempo para a sala de estar e nem disposição para estarmos aos seus pés em adoração, aprender com ele ou simplesmente estar com ele.
5- Ter um coração curado e transformado pelo Senhor.
João 11: 1 ª 44 Marta nos mostra o quanto ela aprendeu com Jesus. Lázaro havia morrido e sua casa estava cheia, Jesus não chegara a tempo de salvar o seu irmão, mas desta vez, sabendo que Jesus havia chegado, ela larga os seus amigos e corre para Jesus, buscando por socorro e consolo. Agora, ela sabia a diferença entre o importante e o urgente. Nada era mais importante naquele momento que estar com Jesus (v.20). Mas, Maria que tranqüilamente se ascentava aos pés de Jesus, agora se via desanimada e triste demais para buscar o seu Senhor, deixou as circunstâncias controlarem seus sentimentos (v.20b). Quem diria, Marta agora passa a perna em Maria! Marta aprendeu a lição! Mas Maria também aprende a servir, no verso dois do cap. 11 de João, também vemos Maria servindo o seu Senhor, quando unge os seus pés com o perfume e os seca com seus cabelos.
Conclusão:
Jesus cura e transforma essas duas irmãs, porque elas estavam sujeitas ao seu senhorio e governo. Ele quer fazer o mesmo comigo e com você. Então, vamos nos ligar a Videira, para que comecemos a dar frutos. Vamos começar a levar a vida de maneira que Jesus possa se espalhar por toda parte. Vamos começar a amar de tal maneira que as pessoas apontem nossas vidas e digam: “eu sei quem você é!” Ou melhor, ainda, “eu sei de quem vocês são!” - porque elas vêem em nós o nosso Senhor e o seu amor! Vêem em nós a Sua Santa Presença!
AMÉM!

sábado, 11 de outubro de 2008

A Experiência do Deserto


Em Marcos 1.12-13, encontramos, de modo resumido, a presença de Jesus no deserto. No relato da tentação de Jesus no Evangelho de Marcos fica claro que foi o Espírito Santo quem levou Jesus para o deserto. É possível que para os judeus e crentes primitivos, a necessidade de um passo para o deserto fosse considerado um elemento importante do crescimento dos líderes espirituais. Moisés havia passado 40 anos no deserto antes de conduzir os israelitas na saída do Egito e guiá-los na conquista da terra prometida. Muitos outros reconhecidos personagens bíblicos também tiveram sua passagem pelo deserto. Na solitude, na carência de alimentos, em meio a intempéries, Jesus vai confrontar-se com sua personalidade e especificamente com suas debilidades. Satanás o tentou com os impulsos humanos básicos: os desejos da carne, os desejos dos olhos e a vanglória da vida (1João 2.16). Não foi um mero jogo de palavras. Se Jesus ia cumprir com a missão que o Pai o encarregou na terra, então, como homem devia vencer suas inclinações naturais e isto sempre implica em dor profunda.

O PODER TRANSFORMADOR DO DESERTO.

O deserto é o lugar dos imponderáveis, a esfera onde não temos controle das situações. Estamos separados do conhecido, estamos sós, sentimos pânico e uma imensa dor. Os homens primitivos se preparavam para os momentos difíceis mediante os rituais de iniciação. Jesus se preparou durante um período de 40 dias de permanência no deserto, cercado por feras e assediado por Satanás. Hoje em dia homens enfrentam essas situações de deserto, essas situações aonde perdemos o controle, mas na maioria das vezes isso acontece de modo repentino e inesperado em nossas vidas e por isso são enfrentadas sem a adequada preparação. Desemprego, divórcio, enfermidade, acidentes, traição, são situações que produzem dores indescritíveis e difíceis de ignorar ou esconder.

Na experiência do deserto, a maioria de nós homens carecemos das ferramentas para confrontar a dor emocional e espiritual, mas por outro lado ela pode nos proporcionar o contexto necessário para adquirir tais ferramentas. Se ocultarmos nossas dores ao invés de lidar com elas, estaremos acalentando a confusão, a depressão, a desmotivação, e as lições que poderíamos aprender no deserto se perderão.

A experiência do deserto é um passo para a maturidade da nossa espiritualidade masculina. Quando estamos no meio de uma situação inesperada, quando nos sentimos sós, cheios de dor e atemorizados, quando sentimos fome e sede espiritual tremenda, então vem a nossa mente as perguntas fundamentais: O que amamos? O que valorizamos? O que podemos eliminar de nossas vidas? Quais são as nossas debilidades? Como somos tentados? Como encontramos a Deus em meio a tentação?

De acordo com os registros da tentação em Mateus e Lucas (Mateus 4.1-11; Lucas 4.1-13), é possível reconhecer quatro princípios que são aprendidos nos momentos em que nos encontramos no deserto e precisamos amadurecer:

1. A experiência da humilhação (2Coríntios 12.9). Deus resiste aos soberbos e dá graça aos humildes.
2. A experiência da fome (Mateus 5.6; João 6.48). Somente os famintos podem ser fartos, somente os enfermos podem ser curados.
3. A experiência da tentação. No geral somos tentados em nossas próprias debilidades (Tiago 1.14). O deserto e um tempo de purificação.
4. A experiência do regresso (Lucas 4.14). Quando saímos do deserto não somos mais os mesmos. Uma nova identidade se forma em nossa vida. Um novo pode será liberado.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A ORAÇÃO DE JABEZ E A VIDA MISSIONAL


Introdução


Alguns anos atrás o pastor e professor de Bíblia, Bruce Wilkinson, escreveu um pequeno livreto intitulado “A Oração de Jabez”. O livreto tornou-se um best seller com mais de 9 milhões de exemplares vendidos só na América do Norte.

O livreto foi traduzido para vários idiomas, incluindo o português, e foi editado no Brasil pela Mundo Cristão, já estando na sua 13ª. Impressão em 2008. O livreto é baseado em um pequeno trecho do Antigo Testamento, 1Crônicas 4.9-10, que menciona a figura de um dos descendentes de Judá chamado Jabez, e que diz que o mesmo foi “mais ilustre do que seus irmãos...”.

A reação ao livreto de Wilkinson tem sido as mais variadas. Muitas pessoas o têm adquirido, lido e depois feito da “Oração de Jabez” uma espécie de “chave mágica” para resolver os problemas de sua vida. Outros, em contra partida, já lêem o livreto com um certo preconceito e procurando encontrar as “heresias” nele contidas.

Você já leu o livreto? Eu li e, particularmente, gostei muito das propostas de Wilkinson e minha intensão nesse texto é tentar demonstrar quais são de fato as teses que o autor está propondo em “Oração de Jabez”, visando de alguma maneira ajudar você a entendê-lo corretamente e a ser abençoado pelos princípios da Palavra de Deus que estão nele contidos.

Antes de iniciar minhas considerações entendo que é importante esclarecer o que Wilkinson não está ensinando no livro e que algumas pessoas, seja a favor ou contra as idéias que vou apontar, dizem que ele está ensinando.

Primeiro, o autor não está defendendo a “Teologia da Prosperidade”, acho que tal conceito foi gerado na cabeça de alguns devido ao subtítulo do livro, “Alcançando a Bênção de Deus”, pelo fato de que na cabeça de muitas pessoas (principalmente evangélicos) a palavra bênção refere-se a coisas que me agradam, desejos que tenho e que quero ver satisfeitos, e em alguns seguimentos, principalmente o que se almeja alcançar materialmente.

No entanto, basta ler o livro e de cara já fica explicito pelo autor de que as bênçãos as quais ele se refere tem a ver com uma vida de maior devoção a Deus e compromisso com a missão de Deus no mundo.

Segundo, o autor não está legislando que suas experiências, ou as experiências que ele descreve no livro são a regra para todas as pessoas. Ele compartilha experiências para exemplificar princípios e cada um de nós deve focar nos princípios e viver nossas próprias experiências.

Terceiro, em nenhum momento o autor apresenta o livro como uma “chave mágica” que sendo usada resolverá todos os seus problemas. Quando ele fala de se ter o livro na “cabeceira da cama” e lê-lo sempre, ele o faz pensando nos princípios que você deve assimilar para a sua vida. Ele não está dizendo para ficar repetindo literalmente a oração de Jabez, mas está, a partir da análise do texto bíblico que narra a oração feita por Jabez, tirando princípios valiosos para que possamos ter vidas frutíferas para a glória de Deus.

Dito isso, gostaria de apontar quais são esse princípios e como é que eles estão diretamente relacionados ao chamado de Deus para que tenhamos uma vida missional. Para tanto, vou seguir as mesmas divisões propostas pelo autor, apenas elucidando o que o mesmo já propôs em seu livro.

I. Pedindo as bênçãos de Deus.

Em sua introdução, Wilkinson faz a seguinte colocação:

Qual foi a última vez que Deus atuou através de você de tal modo que você reconheceu tratar-se indubitavelmente de uma ação divina? Sendo mais especifico, quando foi que você viu milagres acontecendo com regularidade em sua vida? Se você é como a maioria dos cristãos que conheço, você não sabe pedir esse tipo de experiência, nem se deve fazê-lo.

Eu concordo plenamente com a colocação do autor! A maioria das pessoas que se dizem cristãs e que estão freqüentando uma igreja não tem vida extraordinária. A maioria de nós não vive a vida abundante que Jesus Cristo prometeu que viveríamos, não sabemos como ser “naturalmente sobrenaturais”.

Isso pode ofender vários de nós, mas é a mais pura verdade. E aqui começamos a nos deparar com o primeiro ensino do autor, e o primeiro desvio que muitos fizeram no livro.

A primeira ênfase do livro é que devemos pedir e buscar as bênçãos de Deus para a nossa vida. Isso não está contrário ao ensino de Jesus Cristo que disse em Mateus 7.7-12 que deveríamos “pedir, bater e buscar”, pois Deus é bom e quer dar boas coisas àqueles que o buscam.

A questão que precisa ser levantada aqui é qual o significado de “bênção” para o autor? Encontramos a resposta para isso na página 26:

Quando buscamos a bênção de Deus como valor máximo para a nossa vida, estamos nos jogando de corpo inteiro no rio da vontade de Deus, de seu poder e de seu propósito para nós. Todas as demais necessidades se tornam secundárias diante daquilo que realmente queremos: ficar totalmente imersos naquilo que Deus está tentando fazer em nós, através de nós e ao nosso redor, para a sua glória.

Fica absolutamente claro que bênção não tem nada a ver com aquilo que almejamos egoisticamente para nós mesmos, conforme proposto pela Teologia da Prosperidade. Bênção tem a ver com viver uma vida comprometida em buscar, bater e pedir por aquilo que Deus está realizando para a sua glória.

A implicação apresentada por Wilkinson sobre essa primeira questão é que nossas vidas serão marcadas pelo milagre, pelo poder sobrenatural de Deus, ou, em uma outra linguagem, pelos sinais do Reino de Deus que está entre nós.

Também aqui não vejo nada de errado com o ensino do autor, pois essa é a promessa que Jesus nos fez. Veja, por exemplo, João 14.12-14:

Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai. E eu farei o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocês pedirem em meu nome, eu farei.

Nesse ponto Wilkinson conta uma pequena estória como ilustração de alguém que morreu e chegou ao céu e conheceu o que eu chamo de “celeiro das bênçãos retidas” (conheço essa estória já há muito tempo e já a contei repetidas vezes) para enfatizar a necessidade de se pedir.

A linha de raciocínio parte do fato de que Jabez orou pedindo para ser abençoado e por isso o foi. Alguns argumentam aqui que isso não tem nada a ver, que Deus sabe do que precisamos e que ele nos dará pedindo ou não. Aqueles que seguem esse raciocínio erram por não conhecer as Escrituras com profundidade.

É verdade que Deus é soberano e é justamente por isso que precisamos pedir. Pois, em sua soberania, ele determinou que algumas de suas ações só seriam efetivadas em nossas vidas e na história se nós pedíssemos por isso (cf., por exemplo, 2Crônicas 7.14 e Tiago 4.1-3). Portanto, o ensino do livro não está equivocado sobre a necessidade de pedirmos bênçãos para Deus. O que está equivocado é o que muitos vêem e entendem por bênçãos. Esse ponto também é esclarecido pelo próprio autor quando na página 29 diz: “Se você não pede a bênção de Deus, deixará de receber aquelas que são concedidas apenas mediante seu pedido.” O que significa que tem bênçãos que são concedidas independentemente de nossos pedidos (cf. Mateus 5.45).

II. Pedindo por maior influência.

A segunda argumentação do autor nasce do pedido de Jabez para que o Senhor alargasse as suas fronteiras. Wilkinson relaciona esse pedido ao princípio de desejarmos ter uma vida que cause maior impacto para Deus.

Isso está relacionado, portanto, a missão. Relaciona-se ao motivo pelo qual vamos viver nossas vidas. A grande verdade é que este ponto inquieta alguns de nós, porque o nosso coração é dividido. Estamos acostumados com uma vida religiosa, onde nossa relação com Deus é desenvolvida dentro de um ambiente demarcado e seguro. Uma vida vivida ao lado de outras pessoas que pensam como nós, ou pelo menos, que também acreditam em Deus como nós.

Mas o que Wilkinson propõe aqui é que nossa vida cristã, nossa vida com Deus, vá além das nossas reuniões religiosas, vá além de nossas programações que nos agradam e que nos entretém. Na página 35 ele diz que independente de qual seja a nossa vocação profissional as coisas começarão a acontecer de modo dinâmica em nossa vida missional com Deus quando orarmos mais ou menos assim:

Ó Deus e Rei, peço-te que expandas minhas oportunidades e meu impacto de tal maneira que eu possa alcançar mais vidas para a tua glória. Permita-me fazer mais para ti!

Mais uma vez não posso discordar do ensino do autor. Esse é o desejo de Deus para minha vida e para a sua. Se formos seguidores de Jesus Cristo, então, precisamos nos lembrar que vivemos para estender sua influência sobre o mundo em que vivemos, para anunciar que o Reino de Deus chegou e para fazer novos seguidores de Jesus de todas as nações da terra (cf. Mateus 28.16-20).

Essa parte do livro continua discorrendo uma série de exemplos de experiências vivenciadas pelo próprio autor que fundamentam a tese de que somos chamados para viver de uma maneira que a influência do Reino de Deus seja estendida através de nós e que quando estamos envolvidos com isso nossa vida se torna marcada por milagres.

Milagres não têm a ver apenas com manifestações sobrenaturais, mas com as intervenções de Deus em nossa vida, relacionamentos e rotina, levando seu amor através de nós a pessoas que estão ao nosso redor. Deixe-me citar algumas das colocações de Wilkinson sobre essa questão para elucidar que sua proposta quando fala de “alargar as fronteiras” tem a ver com o avanço do Reino de Deus:

· Nosso Deus é especializado em trabalhar através de pessoas comuns que crêem num Deus sobrenatural que vai cumprir sua obra através delas (pg. 45).

· Quando você começar a pedir com sinceridade – a implorar mesmo – por mais influência e responsabilidade para, com isso, honrar a Deus, o Senhor vai colocar oportunidades e pessoas em seu caminho. Você pode confiar que ele nunca vai mandar alguém a quem você não possa ajudar através da orientação e da força do Senhor (pg. 45).

· Orar por fronteiras alargadas é nada menos que pedir um milagre. Um milagre é uma intervenção divina que provoca um evento que normalmente não ocorreria (pg. 47).

· Os milagres mais emocionantes em minha vida aconteceram quando fiz a Deus o audacioso pedido de expandir muito o seu reino. Você não precisa de Deus para dar pequenos passos. É quando você entrega a Deus e se coloca no centro dos planos dele para este mundo – que estão acima de nossa capacidade de executá-los – quando implora a Deus, dizendo Senhor, usa-me! Dá-me um ministério para ti! , que os verdadeiros milagres são desencadeados (pg. 48).

· Deus sempre intervém quando você coloca as prioridades dele acima das suas (pg. 48).

III. Pedindo pelo poder do Espírito.

O próximo pedido de Jabez em sua oração é: “Que seja comigo a tua mão”. Nessa parte do livro o autor vai trabalhar o princípio de que a obra de Deus só pode ser realizada mediante o poder de Deus. Ou seja, somente Deus é quem pode de fato realizar a sua obra, nós apenas somos colaboradores dele no processo.

Seguindo a mesma estrutura, Wilkinson, através do compartilhar de histórias de sua experiência pessoal vai construindo essa sua próxima tese. Demonstra biblicamente que o pedido de Jabez tem a ver com a busca pelo poder de Deus atuando em sua vida, uma vez que a expressão “a mão do Senhor” nas Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamento, está sempre relacionada ao poder atuante de Deus (cf. Josué 4.24; Isaías 59.1; Atos 11.21). O autor diz na página 53:

Se buscar as bênçãos de Deus é nosso mais elevado ato de adoração e se pedir para fazer mais para Deus é nossa ambição maior, requerer que a mão de Deus esteja sobre nós é a nossa escolha estratégica para que as grandes coisas que Deus está fazendo em nossas vidas se perpetuem e continuem a florescer.

Mais uma vez Wilkinson é muito feliz e lúcido em seus argumentos e na sua dissertação. Em minha opinião pessoal uma das realidades mais deficitárias na vida da igreja no Ocidente em nossos dias é pela presença desse poder vital do Espírito Santo.

Somos uma igreja que se move e que sobrevive em torno de eventos. Espero não ser mal compreendido aqui, mas preciso discorrer sobre isso. Não sou contra a realização de atividades e de programações por parte de nossas igrejas, mas a verdade é que sem essas coisas não sabemos como ser igreja. Sempre estamos à procura de uma nova programação, uma nova dinâmica que possamos oferecer as pessoas.

Discutimos a respeito do tipo de música que devemos tocar ou não tocar, da forma que devemos ou não devemos agir, entre outras coisas, mas falta-nos à presença viva e poderosa do Espírito Santo em nosso viver diário, que torna nossas vidas bonitas e atrativas para os outros.

Jesus disse em João 15.4 que não podemos fazer nada sem ele, portanto precisamos do seu poder. Em João 7.37-39, Jesus refere-se ao fato de que se estivermos nele do nosso interior fluirão “rios de água viva”, e João diz que Jesus se referia à presença do Espírito Santo em nós que ainda não havia sido derramado. Em Atos 1.8 somos lembrados de que a presença do Espírito Santo traz o poder de Deus sobre nossas vidas.

A questão é que hoje já vivemos no tempo onde o Espírito Santo já foi derramado e nem por isso a maioria das pessoas que se dizem seguidoras de Jesus Cristo tem vidas poderosas e sobrenaturais. Por que?

A minha resposta é que, por um lado, nosso coração dividido entristece e apaga a ação e liderança do Espírito Santo em nossas vidas (cf. Efésios 4.30; 1Tessalonicenses 5.19); e por outro lado, como coloca Wilkinson, é porque não pedimos pela presença e poder do Espírito Santo. Isso é o que aprendemos com os autores do Novo Testamento: precisamos buscar continuamente a presença e o enchimento do Espírito Santo em nossas vidas (cf. Atos 4.23-31; Romanos 15.18-19; Efésios 3.16-19; 5.18).

Todos os feitos poderosos de Deus para a expansão de seu Reino estão relacionados à presença e ação do Espírito Santo em seus servos (cf. Atos 4.13; 5.29; 7.51; 9.27). Assim, concordo com a colocação do autor quando diz na página 60:

Ao pedirmos a poderosa presença de Deus, tal como Jabez e a igreja primitiva fizeram, também veremos resultados tremendos que podem ser explicados somente como vindos da mão de Deus.

Fazendo eco a Wilkinson, quando foi a última vez em que sua igreja se reuniu e pediu para ser cheia do Espírito Santo? Qual foi a última vez em que você orou com freqüência e fervor dizendo: “Ó Senhor, coloca tua mão sobre mim! Enche-me com o teu Espírito!”?

Encerro essa porção com a colocação de Wilkinson feita na página 66, pois ela é uma expressão exata do que significa viver missionalmente:

Deus busca com zelo àqueles que são sinceramente leais a ele. Nossa parte resume-se em fornecer-lhe um coração fiel.

Um simples apelo trará para você e para mim os inexplicáveis feitos do Espírito. Pelo toque divino você pode experimentar o entusiasmo sobrenatural, a ousadia e o poder. Depende de você.

Peça todos os dias o toque do Pai.

Porque, para o cristão, dependência é apenas um sinônimo de poder.

Jesus disse: “permaneçam em mim, sem mim nada podeis fazer”. A verdade é uma só se não estamos frutificando para ele, ou não estamos permanecendo nele, ou ele mentiu. Não acredito que Jesus mentiu, portanto, sempre que não frutifico sei que a razão é que eu não tenho permanecido nele.

Você tem visto em sua vida o abundante fruto do Espírito Santo? Tem vivido diariamente uma vida marcada pelo poder de Deus? Isso não quer dizer que nossa vida será marcada o tempo todo por eventos sobrenaturais, mas significa que nós seremos naturalmente sobrenaturais.

IV. Vencendo a verdadeira guerra.

O último pedido de Jabez é: “E me preserves do mal”.

A partir dessa frase o autor do livro vai trabalhar toda a questão relacionada à temática da batalha espiritual. Ele nos lembra que muitos homens e mulheres de Deus, após terem galgado uma vida cheia de vitórias no ministério e na caminhada com Deus, acabaram caindo.

Até esse ponto do livro a ênfase é pela busca de uma vida que gere frutos para a glória de Deus, e isso envolve receber um poder sobrenatural para trabalharmos para Deus apesar de nossas fraquezas. “Neste capítulo, rogamos por proteção sobrenatural contra Satanás e contra a capacidade dele de fazer-nos chegar em segundo lugar” (pg . 68).

O ensino de Wilkinson mais uma vez se mantém centrado em uma boa tradição bíblica e teológica, pois há muitas histórias nas Escrituras que exemplificam a realidade dessa batalha espiritual e o potencial de sermos derrotados nela se não estivermos atentos.

O autor nos lembra que se realmente começarmos a viver comprometidos com o Reino de Deus a batalha espiritual será intensificada em nossas vidas. Enfrentaremos mais ataques dirigidos a nós e a nossa família. A Bíblia está cheia de advertências sobre a vilania de Satanás e suas estratégias malignas.

Somos exortados a não buscarmos forças para enfrentarmos a tentação, mas para suplicar ao Pai que nos livre dos ataques do Maligno, assim como Jesus nos ensinou a orar no que convencionamos chamar de “Pai nosso”. Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal! Livra-nos do Maligno! (Mateus 6.13).

O apóstolo Paulo nos instrui em suas cartas a termos consciência dessa batalha e estarmos sempre prontos para encará-la, nos submetendo a Deus e nos revestindo de toda a armadura de Deus, que é o reconhecimento e acolhimento da obra de Cristo em nosso favor (cf. Efésios 6.10-18; 2Coríntios 10.4-6).

Wilkinson chama a nossa atenção para o fato de que não há como lidar com a tentação usando nossos recursos humanos como a nossa sabedoria, a nossa experiência ou os nossos sentimentos. Ele nos lembra que apenas os recursos espirituais que recebemos de Deus é que nos capacitará a sairmos vencedores dessa situação.

Mais uma vez ele compartilha algumas de suas experiências pessoais, e devemos nos lembrar que seu objetivo não é que você procure imitar suas experiências, mas compreenda os princípios que ele está compartilhando e que estão por detrás das experiências narradas.

Entendo que há base bíblica suficiente para percebermos que a realidade do mundo espiritual inclui esse escopo de um “exército” que procura interferir no que Deus está construindo em nós e através de nós como cidadãos do seu Reino.

Lembro aqui que essa batalha não se manifesta apenas contra Satanás, mas também contra a nossa carne (que continuamente se rebela contra o governo de Deus em nós) e com o sistema mundano (que caminha de modo antagônico ao que o Reino de Deus nos propõe).

Devemos tomar cuidado com a arrogância e o orgulho espiritual, pois como diz as Escrituras: “a soberba precede a queda”. É necessário que tenhamos uma atitude humilde diante de Deus e do próximo, reconhecendo que nunca sabemos o suficiente e que sempre precisamos ouvir e seguir a direção espiritual de Deus.

Não há virtude alguma em se expor à tentação e vencê-la. Conforme o apóstolo Paulo orientou seu jovem pupilo Timóteo, devemos fugir das paixões da mocidade (2Timóteo 2.22). Precisamos reconhecer que diariamente somos tentados a dividir nosso coração e a dar espaço a outras realidades além do nosso anelo por Deus. Precisamos também crer que em Cristo somos mais que vencedores e por isso não precisamos temer ao Maligno, pois se nos achegarmos a Deus teremos condições de resistir a Satanás de modo que ele fuja de nós (Tiago 4.7).

Na verdade a proposta de Wilkinson, mais uma vez, está completamente fundamentada no ensino de Jesus Cristo e da palavra de Deus que nos diz que do nosso coração é que procedem as fontes da vida, tanto o bem como o mal e, portanto, devemos lidar com a fonte de nosso pecado, a insubmissão de nosso coração. Se evitarmos a tentação não teremos porque lidar com o pecado.

Caminhando para a conclusão de seu livreto, Wilkinson, nos estimula a desejar uma vida que faça real diferença para o Reino de Deus. Muitos acham que Deus trata e se relaciona com todos da mesma maneira. Pois bem, eu não entendo isso assim e não vejo base bíblica para tal consideração.

De fato, no que diz respeito à regeneração, Deus trata todos da mesma maneira, mas a partir daí há uma diferença entre aqueles que anseiam por Deus de todos o seu coração e que tem o seu coração completamente entregue a ele e aqueles que tem seu coração dividido entre Deus e o que desejam para si mesmos (cf. Tiago 4.4-8; Salmo 25.14).

Homens e mulheres que fazem parte da galeria de honra de Deus são aqueles que já se renderam por completo ao fascínio de Jesus Cristo e do seu Reino. Somos lembrados pelo autor que a única coisa que pode quebrar o ciclo de atuação das obras do Reino em nós e através de nós é nosso próprio pecado.

Jesus disse que devemos permanecer nele. Usando a linguagem de um de meus mentores, é preciso manter a nossa sintonia fina com o Senhor e, para isso, precisamos diariamente analisar o nosso coração e ver quem está no controle dele. Como diz Wilkinson na página 100:

Somos apenas humanos fracos que buscam ser puros e totalmente entregues a nosso Senhor, que querem o que ele quer para esse mundo e que avançam de acordo com o poder e a proteção do Senhor para que isso aconteça agora.

Conclusão

Como disse no início desse meu texto, acredito que o pequeno livro de Bruce Wilkinson, “A Oração de Jabez”, nada mais é do que uma proposta de vida missional para cada um de nós.

Jesus diz que o Reino de Deus é como um homem que coleciona pérolas e que um dia encontra uma pérola de grande valor e que investe tudo o que tem na sua vida para possuí-la.

Minha pergunta é se esse anelo pelo Reino, esse desejo de se ter uma vida que nos faça mais ilustres para Deus é uma realidade no nosso coração. Se respondermos que sim, minha questão é que, assim como afirmou Jesus que é pelos frutos que conhecemos uma árvore, então, a minha e a sua vida devem manifestar os efeitos de alguém que vive com rios de vida fluindo de dentro de si.

Se realmente buscarmos o Senhor de todo o nosso coração e decidirmos que viveremos tão somente para a glória dele, penso que não veremos em nossas vidas nada muito diferente do que Wilkinson propôs nesse livro.

Talvez seja isso que tanto incomoda a alguns! Ter que olhar para a sua vida e admitir a mediocridade de sua fé e de seu compromisso com o Senhor. A verdade é que nós estamos vivendo dias onde, cada vez mais, as pessoas acham que precisam cuidar de suas vidas e de seus interesses pessoais e que Deus é alguém que nos entende.

Na minha opinião esse é o grande problema! Deus nos entende, mas não nos aprova. Ou o temos como o primeiro e único em nossa vida, ou ele será o último. Deus não aceita segundo lugar.

O livro de Wilkinson também não proporciona nenhum fundamento para aqueles cristãos carnais que anseiam encontrar uma formula mágica para que suas vidas sejam vidas melhores, onde melhor significa uma vida sem problemas e dificuldades, onde se alcança tudo o que o nosso coração cobiça, dando a isso o nome de bênção.

Oração de Jabez propõe a mim e a você uma vida extraordinária, um viver que seja naturalmente sobrenatural, por estarmos interessados em buscar o Reino de Deus e sua justiça em primeiro e único lugar. Um viver missional!


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Experimentando a liberdade


Liberdade é um anseio no coração de todo ser humano. Contudo, nossa sociedade confunde liberdade com libertinagem, pois faz da mesma uma busca pela satisfação própria. Mas, a verdadeira liberdade, só pode ser experimentada na presença de Deus. Conforme o apóstolo Paulo diz em Gálatas 5.1, "foi para a liberdade que Cristo nos libertou", mas a religião está sempre nos pressionando de volta a uma vida de escravidão. Achamos que precisamos melhorar, fazer mais, sermos melhores para nos apresentarmos a Deus. Esquecemo-nos que o caminho foi aberto por Jesus Cristo, pelo que ele fez na cruz, se tornando pecado por nós e reconciliando-nos com Deus. Através de Jesus Cristo podemos nos apresentar a Deus do modo como somos, sem tentar ordenar nada em nós, confiados apenas que o perdão de Deus está sobre nós pelo sangue do Cristo. Quando isso acontece, então, encontramos a verdadeira liberdade. Passamos a entender que não é preciso dominar a nós mesmos para irmos a Deus. Isso não significa que não ansiemos e não trabalhemos para melhorar, fazemos isso, mas uma vez mais lembremo-nos do apóstolo Paulo que, em Romanos 7, nos ensina que por mais que nos esforcemos em busca do certo, sempre de novo nos deparamos com nossa estrutura pecaminosa e com nossa queda. Assim, se estendemos nossas mãos vazias ao Pai, vamos nos sentir absolutamente livres, livres de tentar fazer com que nossa vida dê certo, de tentar melhorar a nós mesmos, livres de toda auto-acusação, livres de toda expectativa, pois sabemos que nossa liberdade está em Cristo. Assim, podemos dizer: graças porém a Deus que nos enviou seu Filho Jesus Cristo. Se é para liberdade que Cristo nos libertou, vivamos livres!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

COMUNICANDO O EVANGELHO EM UMA CULTURA PÓS-MODERNA


Introdução

Quando falamos em comunicação do Evangelho hoje temos um grande desafio diante de nós. Mas esse grande desafio não é novo. Os próprios apóstolos e primeiros discípulos tiveram que lidar com ele.

A própria Revelação demonstra e impõe a nós como Igreja no Século XXI a necessidade de encarar esse desafio. Essa é uma necessidade missiológica. A questão é:

Como podemos comunicar o Evangelho de modo pertinente e contextualizado sem incorrer no risco de perdermos os fundamentos básicos do mesmo e sem torná-lo uma propriedade exclusiva de alguns?

Dois exemplos bíblicos.

Esse dilema, como dissemos, não é novo! Dois exemplos bíblicos nos ajudam a ver como os apóstolos tiveram que lidar com isso dentro de sua própria geração.

  1. Gálatas 1.6-10. O apóstolo Paulo lida com a questão de um outro Evangelho que já estava sendo comunicado à Igreja da Galácia que ele acabara de plantar. Tem que chamar a atenção dos irmãos da galácia pelo fato dos mesmos estarem absorvendo um Evangelho que ultrapassara a barreira da contextualização e adentrara o espaço do sincretismo. O apóstolo Paulo tem que lidar com essa questão em outros contextos de seu ministério, como em Colossos (Colossenses 2.16-19) e as orientações que passa a Timóteo (1Timóteo 4.1-5; 2Timóteo 4.1-5).

  1. Atos 10. Nesse texto de Atos temos o que chamamos de “A conversão de Cornélio”. O Senhor envia um anjo até Cornélio que o informa que suas orações e esmolas eram aceitas por Deus e que o mesmo o enviara para orientar a Cornélio em como poderia conhecê-lo melhor. Devia enviar homens a Jope que trouxessem um tal de Simão Pedro para que este os ensinasse a respeito de Deus. Pedro, por sua vez, enquanto jejua e ora, tem uma visão estranha onde o Senhor ordena que ele coma alguns animais cerimonialmente impuros para os judeus. É absolutamente claro que a visão tem a ver com aquilo que Pedro tem a fazer na casa de Cornélio, mas Pedro só se dá conta disso após o Senhor derramar o Espírito Santo sobre os gentios que estavam na casa de Cornélio como havia derramado sobre os 120 no cenáculo.

Assim, se com Paulo temos a questão de se conter um provável sincretismo do Evangelho, com Pedro temos a questão de como impedir que o Evangelho se torne uma propriedade de uma sub cultura.

Lições de casa.

Se como Igreja do Senhor queremos de fato comunicar o Evangelho a nossa geração sem perder sua essência é preciso disposição para fazer algumas “lições de casa”.

  1. Compreender a cultura contemporânea. Isso que chamamos de mundo pós-moderno é a cultura da nossa geração. Alguém já disse que cada geração de cristão no que dista o cumprimento da Grande Comissão só pode alcançar a sua própria geração. E para que isso ocorra é importante, na verdade imprescindível, que compreendamos nossa própria cultura. Compreender e não imitar ou absorver. Penso que a Igreja contemporânea muito mais assimila a cultura do que a compreende. Isso se deve ao fato de desenvolver uma subcultura cristã que achamos ser o Evangelho do Reino, mas que não passa, nada mais nada menos, do que uma imitação da cultura secular. É por demais complexo tentar aqui desenvolver bases que nos auxiliem na compreensão da cultura pós-moderna, mas partindo de Oss Guines podemos ressaltar que a mesma é composta por três pilastras basilares: secularização, privatização, pluralização.
    1. A secularização põe Deus no canto da vida. O mundo pós-moderno não é um mundo que rejeita o Sagrado, mas é um mundo que deseja manipulá-lo.
    2. A privatização põe o outro no canto da vida. Nosso mundo carece de relacionamentos significativos, transparentes, profundos e genuínos, mas a tendência de cada um viver a partir de si mesmo faz com que nossas relações se tornem cada vez mais virtuais, onde o próximo pode ser deletado. Assim como, a ênfase no bem estar individual faz com que a busca pela auto-satisfação se torne a ordem do dia.
    3. A pluralização coloca a verdade no canto da vida. Em uma sociedade onde cada um tem sua suposta liberdade e onde o que importa é a satisfação pessoal é impossível que se faça uma opção por absolutos. Logo não pode haver a verdade, mas verdades conforme a conveniência ou o gosto do freguês.

  1. Compreender o Evangelho do Reino. Nesse momento, talvez, a grande expectativa fosse a de tomar ciência de alguns métodos ou técnicas que pudessem fazer de nós comunicadores melhores do Evangelho. Penso que é importante conhecer e desenvolver metodologias que nos tornem melhores comunicadores, mas isso de nada nos adiantará se não soubermos o que comunicar ou o que comunicamos. Com o temor de estar sendo muito severo aqui, ouso dizer que a Igreja contemporânea perdeu o Evangelho. Não sabemos que Evangelho pregamos, falamos de Deus, falamos de Cristo, anunciamos uma série de verdades, mas elas estão desconectadas. Não é somente porque anunciamos ou usamos o nome de Jesus Cristo que estejamos pregando o Evangelho. Esse é um ponto polêmico, mas é preciso considerá-lo. O que é o Evangelho? Mais precisamente o que é o Evangelho do Reino? Porque se não soubermos isso não adiante discutir como comunicar com a sociedade pós-moderna, pois o que é que comunicaremos? Novamente lidamos com uma questão que não poderemos responder com simplicidade e muito menos com breves palavras. No entanto, a titulo de contribuição para a reflexão assinalemos alguns pontos:
    1. O Evangelho do Reino não é propriedade da Igreja. Não é algo que Deus nos concedeu para ser guardado, não é algo que a igreja contem, mas a igreja é contida por ele. Em outras palavras o Evangelho do Reino está além da Igreja e hora pode envolvê-la mais hora menos, dependendo de nossa própria postura diante dele. É a questão de Pedro e Cornélio. Como o Bispo Leslie Newbegan pergunta em quem se converteu? Cornélio ou Pedro? (The Open Secret).
    2. O Evangelho do Reino não tem como finalidade meramente o ser humano, embora dê atenção especial a esse. O Evangelho não é uma mensagem antropocêntrica. Não está em voga o ser humano e sua felicidade, a humanidade é um dos alvos da redenção, mas essa vai muito além da garantia de liberdade do inferno, a garantia de um lugar no céu e de felicidade e vitória na terra.
    3. O Evangelho do Reino é o anuncio de que todas as coisas foram resgatadas e estão sendo restauradas através da remissão que obtemos em Jesus Cristo e que a manifestação disso se dá na história à medida que nos rendemos ao Senhorio de Jesus Cristo e aprendendo a viver nossa humanidade com ele (Efésios 1.22).

Uma vez que compreendemos esses dois pontos vamos entender que para comunicar o Evangelho em nossa cultura contemporânea precisamos, como Igreja, manter o equilíbrio entre uma radical diferença e total aproximação. Entenderemos que a mensagem que pregamos gera redenção e que isso significa que algumas coisas serão transformadas e melhoradas, enquanto outras serão verdadeiramente rejeitadas e ainda outras, que estão relacionadas a nós como Igreja, precisarão ser adaptadas. Somente mediante uma real e intensa busca de Deus e sua direção diária para nossas vidas é que isso será possível.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Aprendendo com quem sabe


Recebi por email de um amigo a cópia de uma entrevista feita com o falecido professor e sacerdote católico Henri Nouwen e o autor e pastor Richard Foster, que muito nos ensina sobre a vida espiritual e o ministério. Espero que você faça bom proveito.

Ricardo Costa

Em 21 de setembro de 1996, Henri Nouwen faleceu de um ataque cardíaco em Hilversum, Holanda. Nouwen foi um padre católico e psicólogo, melhor conhecido entre os pastores protestantes pelo livro “A volta do filho pródigo”. Um dos temas de Nouwen era viver nosso quebrantamento debaixo da bênção de Deus. Em uma entrevista, Nouwen disse: “Muitas pessoas não acreditam que são amadas, protegidas e então, quando sofrem, encaram isto como uma afirmação do seu pouco valor. A questão do ministério e da vida espiritual é aprender a viver nosso quebrantamento debaixo da bênção de Deus e não de maldição”.
Em 1982, a revista Leadership publicou uma entrevista com Nouwen e Richard Foster sobre o que os líderes das igrejas precisavam fazer para conhecer a Deus. Fundador do movimento Renovaré, Foster escreveu, entre outros livros, “Dinheiro, Sexo e Poder” e “A Liberdade da Simplicidade”, porém seu livro mais famoso é “Celebração da Disciplina”. Após saber da morte de Nouwen, relemos a entrevista e ficamos tocados com sua sabedoria atemporal e atual acerca da vida espiritual. Oferecemos esta matéria novamente em memória do ferido que cura.

Onde você se encontra atualmente em sua jornada espiritual?
Henri Nouwen: Estou em um dos períodos mais difíceis da minha vida. Muitas vezes senti minha direção espiritual ser certeira, clara. Atualmente, no entanto, tudo é incerto. Quando vim da Holanda para os EUA, me tornei um padre, um psicólogo e membro da Clínica Menninger. Fui professor da Universidade Notre Dame, ensinei na Holanda e voltei para dar aulas na Universidade de Yale. As pessoas começaram a corresponder mais e mais sobre o que eu dizia e isso provocou em mim uma sensação: “Sim, eu obviamente tenho algo para falar”. Deveria ficar feliz. Mas nos últimos meses estou cara a cara com meu próprio abismo espiritual. Nada deste sucesso me tornou mais santo ou aperfeiçoado.
No semestre passado viajei pelo mundo e falei para multidões. Tudo isto criou uma noção de que eu estava no lugar certo, que havia chegado ao objetivo. Mas ao mesmo tempo meu mundo interno estava precisamente no lugar oposto. Mais e mais eu sentia que se Deus tivesse algo a dizer, ele não precisaria de mim. Encontrei-me experimentando os dois extremos: alta afirmação pessoal e uma grande escuridão.
Richard Foster: No passado, quando conheci a Deus, tudo era muito intenso. Uma vez passei três dias em jejum e oração. Após fazer isto, senti a necessidade de ligar para um homem com quem eu contava para orientação espiritual. Ele morava bem longe de mim, mas eu liguei e perguntei se ele podia vir orar por mim. Ele veio e eu estava pronto para me colocar diante dele e deixar que ministrasse ao meu coração. Ao invés disso, ele sentou na minha frente e começou a confessar seus pecados. Eu pensei: Eu é que deveria estar fazendo isto agora! Quando ele terminou e eu orei por perdão para ele, e ele disse: “Bem, depois disso você ainda quer que eu ore por você?”. De repente compreendi seu discernimento. Ele sabia que eu o considerava um gigante espiritual que iria me endireitar. Só depois de se expor e confessar seus pecados, é que colocou suas mãos e orou por mim.

O que fez com que você acreditasse tão intensamente que precisava encontrar a Deus?
Foster: Desespero. Não tanto por mim no começo, mas pelas pessoas que eu enxergava que precisavam de ajuda. Depois comecei a sentir o quanto eu também precisava de Deus. Apesar do anseio profundo de passar tempo em solitude, muitos de nós nos sentimos encurralados pela demanda do ministério.
Nouwen: Sou como muitos pastores: comprometo-me com projetos e planos e depois penso sobre como conseguirei fazer tudo. Esta é a verdade do pastor, do professor, do administrador. É inerente à nossa cultura que nos diz: “Faça o máximo que você puder ou você nunca conseguirá se destacar”. Neste sentido, os pastores fazem parte do mundo. Descobri que não é possível lutar contra os demônios do nosso ativismo de forma direta. Não posso dizer sempre 'não', a não ser que existam coisas dez vezes mais atrativas para escolher. Dizer não para minha luxúria, minhas necessidades e os poderes do mundo, requer uma enorme quantidade de energia.
A única esperança que temos é encontrar algo tão obviamente real e atrativo ao qual eu possa dedicar todas as minhas energias e dizer sim. Desta forma não tenho tempo para dar atenção às minhas distrações. Uma das coisas para as quais eu posso dizer 'sim' é quando entro em contato com o fato de que sou amado. Uma vez que percebo que mesmo estando totalmente quebrantado, ainda assim sou amado, torno-me livre da compulsão de fazer coisas para obter sucesso.
Foster: Após terminar meu doutorado, fui a uma pequena igreja na Califórnia. Uma igreja “marginal”, que seria considerada um fracasso para os índices de pontuação de resultados eclesiásticos. Trabalhei, planejei e organizei determinado a mudar o rumo daquela igreja. Mas as coisas pioraram. A raiva parecia permear em todas as pessoas: os conservadores estavam irritados com os liberais, os liberais bravos com os radicais e os radicais irritados com todos os outros. Eu odiava ir às conferências de pastores porque eu não tinha nenhuma história de sucesso. Eu trabalhava com toda a força, mas não era bom o suficiente. Então passei três dias com o meu orientador espiritual. Ao final daquele tempo ele disse: “Dick, você precisa decidir se vai ser um pastor desta igreja ou um pastor de Cristo”. Aquele foi o ponto crucial. Até lá eu havia permitido que as expectativas das pessoas manipulassem a mim e minhas próprias expectativas.

Vocês dois falam sobre receber orientação espiritual de outros. Como vocês descrevem um orientador espiritual? Foster: Direção espiritual é uma idéia cristã. Significa ter alguém que possa ler a minha alma e me dar direção na caminhada com Cristo. Muitas igrejas chamam isto de discipulado.
Nouwen: A igreja em si é uma orientadora espiritual. Tenta conectar sua história com a história de Deus. Ser uma parte real da comunidade eclesiástica significa estar sob direção e orientação; somos dirigidos a fazer conexões. A Bíblia é um orientador espiritual. As pessoas precisam ler as Escrituras como uma palavra para si e perguntar onde Deus quer falar com eles. Por fim, cristãos são orientadores espirituais. O uso de uma pessoa na orientação espiritual tem diversas formas e estilos, assim como as pessoas. Um orientador espiritual é um cristão, homem ou mulher, que pratica as disciplinas da igreja e da Bíblia, para quem você está disposto a prestar contas de sua vida. Esta orientação pode acontecer uma vez por semana, uma vez por mês, uma vez por ano. Pode acontecer por dez minutos ou dez horas. Em momentos de solidão e crise, esta pessoa ora por você.

Como um pastor encontra uma pessoa assim?
Foster: Esta busca por si só é uma grande aventura na oração. Peço a Deus que traga a mim alguém e aguardo pela salvação de Deus que virá. Minha primeira orientadora foi uma senhora que trabalhava durante muitas noites em um grande hospital. Seis vezes por semana até as oito da manhã, ao final do turno da noite, nos encontrávamos para orar, compartilhar e aprender, a partir de nossas experiências com Deus. Começamos a aprender o que significa caminhar com Cristo e a experiência foi ótima para nós dois. Mas muitos pastores não sentem que há alguém com quem possam conversar.
Nouwen: Se você está seriamente interessado em sua vida espiritual, encontrar um orientador espiritual não é um problema. Muitos estão à volta esperando o convite. No entanto, muitas vezes não queremos realmente nos livrar de nossa solidão. Algo em nós quer fazer tudo sozinho. Constantemente vejo isto em minha própria vida. Um orientador espiritual não é um ótimo guru, totalmente estruturado, é apenas alguém que divide as mesmas lutas e pecados e, portanto, revela a presença Daquele que é perdoador.
Foster: No pastorado no Oregon, percebi que precisava de pessoas que me ajudassem. De muitas formas eu disse: “Queridos, amo vocês e preciso de ajuda. Adoraria que vocês viessem à minha sala não apenas quando tivessem problemas ou quando estivessem tristes. Gostaria que viessem orar por mim a qualquer momento”. As pessoas começaram a vir e, por dez minutos, oravam por mim. Chegavam dizendo “pastor, vim orar por você”. Eu ajoelhava perante estas pessoas como sinal de submissão e deixava que orassem por mim.
Nouwen: Richard, gosto da idéia de pedir que as pessoas orem por você, mas para algumas congregações isto pode ser muito formal ou explícito. A primeira coisa para mim é comunicar às pessoas que eu adoraria conhecê-las. Em outras palavras, eu diria: “Venha e me diga como estão as coisas. Entre. Interrompa-me”. Sempre estou correndo com algum compromisso e preciso que as pessoas me digam “Pare! Você não percebeu que eu estou tentando lhe dizer algo”.

Mas como você lida com as interrupções?
Nouwen: O que quero dizer é ter uma atitude espiritual de quem quer ser surpreendido por Deus. Entupimos nossos pensamentos com tantos compromissos que não temos tempo para ouvir a Deus. Deus não fala comigo apenas no começo ou no fim de um projeto, mas fala comigo o tempo todo, podendo dar nova direção no meio da questão. O ministro de certa forma é alguém desnecessário, desnecessário no sentido de que pode ser usado a qualquer momento por qualquer pessoa para qualquer coisa. Ontem eu falava com um padre da Filadélfia que me disse: “estou tão preocupado com o verão. Sou um padre branco em uma vizinhança negra. O que farei?”
Eu respondi: “Ande pelas ruas. Deixe claro que você esta lá, disponível. Não precisa falar com todos o tempo todo, apenas esteja lá. Diga às pessoas que você não quer nada. Aja como se você fosse desnecessário, aguarde para estar com eles e amá-los”.



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(tradução de Karen Bomilcar)